A minha Lista de blogues

segunda-feira, 26 de março de 2018

PORTO ALEGRE 246 ANOS

Vivo  numa cidade velha,
que às vezes  parece nova,
outras vezes parece outra.
Às vezes parece antiga
menos antigas que outras
que se tornaram velhas,
entretanto minha cidade,
que há pouco era província
tem um jeito diferente
das cidades que eu conheço.
Ela mora lado  ao do rio,
o  qual dizem  que um lago,
composto por quatro braços;
que eu chamo de estuário,
e o seria  se não houvesse
uma lagoa entre o lago e o mar,
entre o rio e o mar para quem
ainda não assimilou a ideia
e reitera que o nosso lago é um rio.
Este rio, este lago, este processo
de água doce, trouxe os açorianos,
lá no século dezoito,
para o entorno do Gasometro
onde engendraram a Porto Alegre.
Então ela desceu as curvas do rio
para o lado do sul,  subiu para o norte,
 depois desgarrou para as bandas de Viamão...

quinta-feira, 22 de março de 2018

MARX

Yeshua Bem Padira falou:
Pedro, apascenta minhas ovelhas?
.........................................................

Muitos séculos depois,
Marx, cofiando as barbas, pensava consigo:
meus discípulos conduzirão o rebanho
pelo deserto teórico
e o instalarão na casa da utopia.

segunda-feira, 19 de março de 2018

PODER E GLÓRIA

Tu que buscavas
o poder
por toda a parte,
construías teus palácios
nas nuvens.
Pensavas hipnotizar o vento.
Aspiravas à glória salomônica.

Tu eras César
atravessando o Rubicom
Incorporavas Sócrates
calando Atenas.

Agora, no final da reta,
percebes tua corrida vã.
Vês ali na esquina
a sombra da dama da foice.
Sabes que do outro lado
não poderás cambiar
tuas moedas podres.
Então, compreendes
que tudo é poeira.




terça-feira, 13 de março de 2018

AROMA

O cheiro da relva molhada, suspenso na tarde,
resgata os dias primaveris estendidos
no varal das estações;
ferrugem das talhas penduradas no cabide do tempo,
escopo de uma  ilusão insone acoplada
à engrenagem da memória.

Quando o aroma das coisas pretéritas,
soterrada no arquivo morto  da lembrança,
surpreende-me, de repente, assim do nada,
navego na cauda do  vento feito criança.


segunda-feira, 12 de março de 2018

QUEM SOMOS NÓS?

Quantas vezes posamos
de donos da verdade
sem saber o que é a verdade?
Passamos a vida
buscando o novo
em fontes caducas
sem perceber
que a novidade
é o aqui, o agora.
Gastamos  parte
desta existência
 julgando as coisas,
os seres, o mundo
com pecha de sábios,
entretanto, não sabemos
nem quem somos.

quinta-feira, 8 de março de 2018

O FIM! O FIM?


O homem moderno atropelou o tempo
e logo pediu mais tempo,
porque o tempo que ele mal administra
parece-lhe tão pouco.  


O homem moderno, apressado,
sôfrego, detesta o jargão
"dar tempo ao tempo"
impaciente, pula o "meio"
ansioso, quer logo o "fim".


O projeto de vida
do homem moderno

está centrado no:
 fim da tarde,
 fim da semana,
 fim do mês,
 fim do ano,
o epílogo do livro,
o ápice na cama...
mas apesar de tudo,
teme o "fim do fim",
tanto que se tivesse poder de barganha,
cara a cara com a hora derradeira,
negociaria com o juiz do tempo
um pedido de tempo complementar...

segunda-feira, 5 de março de 2018

POESIA, AH, A POESIA!

Meio estufetato e assustado,
ouvi esse triálogo, outro dia,
entre um adolescente e os pais,
numa livraria da cidade:

Mãê, compra o Grande Sertão Veredas pra mim!
- Prá  que tu queres este livro?
-  Leitura sugerida pela sora
- Tua professora está se intrometendo
- Ela  disse que  é uma  leitura inteligente
- Tu deves ler os jornais.
- Jornal  é diferente de livro
- Jornais tem bons colunistas, alguns são até escritores.
- Não gosto de jornais. Eles trazem as coisas que eu vejo antes na Internet.

Paê, compra este livro do Marcel Proust?
- Menino tu não  tens  idéia das coisas
que esse cara escreveu
- Como não! Já vi alguns trechos dele na Web
- Tens  certeza de que se tratava do Proust ,
sujeito massudo, rabujento, embromão?
- Claro! Li trechos do 1º volume. Estilo  bem descritivo,
mas gostei de Albertine, Germantes. Pretendo ler os 7 volumes
de "Em busca do  Tempo Perdido"
- Tempo perdido é continuar insistindo, porque
eu vou  comprar mesmo é uma enciclopédia.

Mãê, paê, não poderemos ficar  no meio-termo?
- Os dois falam ao mesmo tempo, tipo coisa combinada anteriormente:
Pode ser a coleção  Harry Potter?
- Nada disso. Caraca!
- Novamente, os dois:
 Então tu queres a coleção de dvd dos filmes  do Potter ?
- Quero o último livro do Manoel de Barros
- O quê, eu e tua mãe  nunca ouvimos falar desse cara!
- Ah, então, pode ser a coleção do Mario Quintana.
- Poesia, não! Poesia, não!
 - Por que não, se já escrevo alguns poemas?
- E os dois, ao mesmo tempo, nervosos, quase gritando:
Por que poesia amolece os miolos!

sexta-feira, 2 de março de 2018

SEI QUE NADA SEI

A sapiência douta quase me assusta:
O clero e os  formadores de opinião
querem transformar o mundo,
mas eu, um ser em evolução,
párticipe da Roda de Samsara,
ainda não sei o que é o mundo.
Também não sei quem eu sou,
não sei de onde eu venho
nem sei para onde vou
Felizes os religiosos e os políticos,
porque possuem as respostas prontas
para todas as questões existenciais
Perdoem a ignorância deste fã de Sócrates
que sabe, que nada sabe.