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segunda-feira, 30 de abril de 2018

MISÉRIA

Eu sonhava que sorria
e sorrindo ia à rua
Era um riso largo
que incomodava os transeuntes,
perturbava o mundo carente de risos,
irritava o homem de terno cinza
e rosto crispado, que olhava para os lados.
Mas a alegria foi desaparecendo
à medida que eu me aproximava
do centro da cidade
e deparava-me com a miséria
exposta diante dos olhos;
uma miséria diferente
da miséria descrita pelos jornais
e daquela embalada na tv
para a obtenção de pontos no Ibope.
Era a miséria crua, estampada
no rosto dos analfabetos,
na fisionomia dos gatunos,
nos olhos dos corruptos,
nos gestos dos políticos,
nas artérias deste tempo...

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O PÔR DO SOL EM POA

Gosto de ver o sol se pondo
nestas tardes outonais,
sobre águas do  Guaíba.
A luminosidade dos últimos raios
caindo  na superfície do  lago,
 refletindo na abóboda,
no  tom  da plumagem do flamingo.
Momento  único e efêmero,
mas assim é que é:
os dias vão,
o  outono passa,
 a existência  acaba.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

A POLÍTICA

As convicções inabaláveis
dos adeptos blindados
da arte de enganar
assustam-me.

Poderia os chamar maquiavélicos,
até  de inocentes  úteis
ou qualquer coisa afim,
mas eles diriam que sou doido.
Diriam mais: bom senso
é o ancoradouro dos covardes.

domingo, 15 de abril de 2018

NAQUELE TEMPO

Naquele tempo
bebia a solidão quase absoluta
acoplada à quietude harmônica da natureza.
De permeio, aspirava algo que quebrasse
o veio tedioso da tranquilidade;
talvez uma pedra lançada na calmaria do lago
ou a réstia de vento a debulhar o campo de trigo.

Naquelas manhãs pretéritas
banhava o corpo nas gotas desprendidas,
da cauda do arco-íris,
navegava nos fluidos das essências antigas,
integrado à sabedoria da unidade,
 mas quando ousei, num passe de mágica,
agir sobre a face de gaia;
nomeando, adicionando e dividindo,
me perdi nas trilhas bifurcadas do eu.

Certamente, dentre as coisas
que desesperam o homem,
talvez a mais exasperante, seja
absorver o cotidiano embebido de paz,
tanto, que cedo ou tarde,
lá vai ele, criatura inquieta,
à procura  de guerra,
e na falta de inimigos,
briga consigo próprio.

quarta-feira, 11 de abril de 2018

LÁ E CÁ, CÁ E LÁ

Eu, leitor preguiçoso
das manchetes midiáticas,
anestesiado pelo bombardeio
de informações ruins,
surpreendi-me outro dia
com uma notícia
vinda lá da Suécia:
quatro presídios serão fechados
por falta de inquilinos...
Só pensar no contraponto tupiniquim
e ficar de boca aberta...
Os presídios suecos não possuem
residentes oriundos da política.
As prisões brasileiras não tinham pacientes políticos
porque as nossas leis não mandavam
colarinhos brancos para trás das grades.
Homens públicos  suecos são diferentes,
eles creem que a moralidade é o bastião
intrínseco à dignidade humana.

sexta-feira, 6 de abril de 2018

LIRA

              I
Fosse meu nome lírico
destilaria odores poéticos
verteria lágrimas pálidas
de conjuntas pálpebras trêmulas
consoante ao corpo esquálido
fiapos de retalhos lúdicos
envoltos ao baú das sílfides
falso verniz simbólico
impresso à sombra mítica
à revelia do sistema lógico
poeira remota agônica
o traço da cultura helênica
na pena do poeta sonâmbulo.

                   II
Sendo ou não autor de atos profanos,
conduzindo o remo da jangada
por rio de águas escassas,
nunca se sabe ao certo
o momento exato
de se aventurar ao mar.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

OLHA, GENTE


Hoje, abro esta cronica poética
fazendo uma reclamação pública
e prestando uma homenagem
a um jornalista do passado,
o ilustre Sr. Lauro Quadros,
o qual abria seu comentário.
na velha  Rádio Guaíba,
de segunda à sexta-feira,
com o bordão: "Olha gente!"
Pois, olha gente, o que fizeram
ou estão deixando que façam
com a nossa Rua da Praia!
Cadê a administração desta cidade,
que permite a descaracterização
da nossa rua cartão postal?
Poluição visual e auditiva
imperam nos quarteirões
entre a Dr. Flores e a Rua da Ladeira
detonando o charme de outros tempos.
Nosso alcaide estaria, por acaso, surdo
e os nosso edis cegos?