Ainda lembro de mim à janela
esperando as andorinhas.
De repente o céu ficava escuro,
o vento, forte, soprava do sul,
as andorinhas voavam para o leste
e eu antegozava o cheiro da chuva.
Era questão de tempo e a água descia.
Eu de alma lavada esquecia do mundo.
Outras vezes, nas manhãs ensolaradas,
as andorinhas faziam o ensaio da chuva.
Então, a gente sabia que iria chover,
e ainda que a meteorologia dissesse o oposto
naqueles dias sempre acabava chovendo.
Hoje, descendo a ladeira da vida,
ouvindo as previsões anunciar
que uma frente fria trará chuva,
debruçado em outra janela,
lembro do passado e falo
com a criança que eu fui:
são as andorinhas que trazem chuva!
ESTE BLOG FOI CRIADO PARA DAR VAZÃO AOS MEUS POEMAS E A ALGUNS TEXTOS, ESQUECIDOS NA GAVETA, E DE UM QUE OUTRO SIMULACRO, QUE PORVENTURA VENHA SURGIR. TAMBÉM POSTAREI, SEMPRE QUE ME DER NA TELHA, PEQUENOS TEXTOS, FRASES, PENSAMENTOS DE AUTORES CONSAGRADOS, SOBRETUDO DOS MEUS POETAS PREFERIDOS.
sábado, 23 de junho de 2018
terça-feira, 19 de junho de 2018
AÇÃO E INAÇÃO
Quando eu contornava
o fim do parque,
onde começava a floresta,
praticando meu cooper,
via um homem parado,
olhando na minha direção.
O sujeito me impressionava,
porque naquela época,
eu era um jovem inquieto,
andando de um lugar a outro,
abduzido pelo movimento.
Quando eu passava por ali,
via o homem inerte, feito estátua.
De início aquilo não me incomodava,
mas depois de algum tempo,
veio-me um estado de angústia.
Curioso, um dia abordei o homem
e perguntei-lhe o que ele pensava
sobre o meu exercício
Daí, ele perguntou que atividade eu praticava
- então perguntei: não me vês passando por aqui,
sempre aos finais de tarde?
- Ora, nunca havia percebido, pois cuido do meu mister.
- Mas o que tu fazes aí parado, sem ver as coisas à tua volta?
- Bem, depois do trabalho, eu exercito, por algum tempo, a arte de ouvir o silêncio
o fim do parque,
onde começava a floresta,
praticando meu cooper,
via um homem parado,
olhando na minha direção.
O sujeito me impressionava,
porque naquela época,
eu era um jovem inquieto,
andando de um lugar a outro,
abduzido pelo movimento.
Quando eu passava por ali,
via o homem inerte, feito estátua.
De início aquilo não me incomodava,
mas depois de algum tempo,
veio-me um estado de angústia.
Curioso, um dia abordei o homem
e perguntei-lhe o que ele pensava
sobre o meu exercício
Daí, ele perguntou que atividade eu praticava
- então perguntei: não me vês passando por aqui,
sempre aos finais de tarde?
- Ora, nunca havia percebido, pois cuido do meu mister.
- Mas o que tu fazes aí parado, sem ver as coisas à tua volta?
- Bem, depois do trabalho, eu exercito, por algum tempo, a arte de ouvir o silêncio
terça-feira, 12 de junho de 2018
TUDO PASSA
Lá no começo da estrada,
eu aprendi algumas coisas,
que agora não servem mais
como datilografia, por exemplo,
em máquinas mecânicas e elétricas;
também informática através de cartões perfurados.
Sem falar na arte de operar antigos mimiógrafos
Ainda me ensinaram boa conduta, respeito, ética;
essas coisas que foram jogadas na lata do lixo.
Nada no mundo líquido já me impressiona muito,
à medida que sei que a novidade badalada de hoje
será a sucata ridicularizada de amanhã.
eu aprendi algumas coisas,
que agora não servem mais
como datilografia, por exemplo,
em máquinas mecânicas e elétricas;
também informática através de cartões perfurados.
Sem falar na arte de operar antigos mimiógrafos
Ainda me ensinaram boa conduta, respeito, ética;
essas coisas que foram jogadas na lata do lixo.
Nada no mundo líquido já me impressiona muito,
à medida que sei que a novidade badalada de hoje
será a sucata ridicularizada de amanhã.
quarta-feira, 6 de junho de 2018
DESABAFO -
Antes da guerra civil
se instalar por aqui
a vida era calma.
Acho que era ano 71 ou 72,
eu saia todo fim de mês
do antigo Banco Nacional,
aquele do guarda-chuva
(lembram?),
agência da Rua Uruguai
com as cédulas na mão,
sem correr riscos,
porque não havia ladrões
à espreita dos nossos trocados.
Porém, pouco a pouco,
os olhos da gateada
foram preteando.
E nos dias atuais
a situação está insustentável.
se instalar por aqui
a vida era calma.
Acho que era ano 71 ou 72,
eu saia todo fim de mês
do antigo Banco Nacional,
aquele do guarda-chuva
(lembram?),
agência da Rua Uruguai
com as cédulas na mão,
sem correr riscos,
porque não havia ladrões
à espreita dos nossos trocados.
Porém, pouco a pouco,
os olhos da gateada
foram preteando.
E nos dias atuais
a situação está insustentável.