A minha Lista de blogues

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

PSICODÉLICO

Até semana passada,
lembrei-me muitas vezes
daquele meu amigo,
se embriagando nas águas
de Joplin, Morrison, Hendrix...
sonhando e bebendo
Baudelaire, Hesse e Pessoa,
colhendo pelo caminho
os cogumelos de Castaneda...

Ainda lembro que ele recitava
um verso recorrente na época:
"Não vim aqui para ser feliz"
Então, traduzia-me; nascera
para curtir, experimentar,sentir.
Dizia-me: viver era estar presente
no espaço fugaz e escorregadio
entre  o nascimento e  a morte.

Hoje fiquei sabendo que o rapaz
já partiu há vários anos...
Lamentei, num primeiro instante,
a brevidade daquela existência.
Absorvido o choque, em contrapartida,
fiquei meditando no meu modus vivendi
sereno, comedido,  interno...
 Por fim perguntei-me:
Será que a vida acontece do lado de fora?

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

OS GIRASSÓIS



Houve consternação na vizinhança
quando a polícia prendeu
aquele homem que morava
num casebre perto da praça.

Como fazem isso, eles disseram;
colocam um homem pacato na cadeia
enquanto milhares de malfeitores
transitam impunes pela cidade!

Que crime, aquele homem simplório
havia cometido contra a sociedade?

Simples: para a lei constituida,
ele havia invadido a propriedade pública,
porque plantara umas sementes
no canteiros em torno da praça
As sementes germinaram, cresceram
e floriram nos canteiros,
e a praça, antes tão feia,
se transformou num jardim de girassóis. 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

NÃO ERA ASSIM

Nenhuma lasca de medo
vertida no olho da noite.
Nenhuma nesga de dor
turvando o azul da tarde.

Nem gula. Nem sede. Nem sangue.
Nem guerras. Nem tricas. Só o poema;
O lado lúdico da vida.
Eu lia Mario Quintana.

A manhã parava observando
a menina distraída à rua.
O outro "eu" falava comigo,
sentados no banco da praça.
Eu lia Jorge Luis Borges.

Eu tirava o pó dos livros na estante
a vida passava lá fora
A brisa lambia os corpos na tarde
Eu lia Fernando Pessoa.

Mas isso faz muito tempo,
 ainda no século passado.
Foi antes da guerra civil
tomar o  país de assalto.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ETA, SOMOS BRASILEIROS

Mais um carnaval que passou
Mais um ano que começa
Agora que a festa acabou
é hora de sacudir o esqueleto

É hora de retirar a poeira dos olhos
Apanhar o velho paletó do armário
Esquecer a canseira de não fazer nada
Arregaçar as mangas e ir à batalha.

Hora de pagar o colégio da prole
Contar os feriados do calendário.
Refinanciar as pendências das férias,
pois, brasileiros, gastamos antecipados

Hora de empurrar com a barriga
as parcelas dos cartões atrasados.
Começar agora, meio sem jeito,
a contagem regressiva para o Natal.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

CARNI VALLIS

Cada povo e suas circunstâncias,
seus hábitos, suas indiossincrasias.
Sobretudo na era da aldeia globalizada,
a diferença está nas peculiaridades...

Nós, tupiniquins, nos acostumamos
com a ideia de que somente após o carnaval,
o país sai do marasmo de início de ano,
quando  liga os motores de funcionamento das cidades.

Entretanto, este ano, em pleno fevereiro, observo
no dia seguinte à festa de carnis valles,
que apenas os supermercados estão a todo o vapor
visto que a qualquer tempo as bocas não param.

As variações de paradigmas, no transcorrer do tempo,
induziram-me à revisão das teses conceituais,
logo, concluo, que o ano comercial no Brasil começa de fato
após o carnaval se este evento ocorrer no mês de março.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

CARNE-VALE

Nesta semana de carnaval
entrei no clima de momo
às avessas.

Fique com tanta preguiça,
que me senti Macunaima.

Com as placas cerebrais enroladas,
não escrevi nenhum reles verso.

Até a leitura de jornal deu sono.

Vendo tanta empolgação desfilando na Sapucaí
mais a cantilena ufanista televisiva,
fui induzido  ao espírito da Tropicália
contido no Manifesto Antropofágico,
do modernista(?) Oswald de Andrade,
mas parei nas primeiras páginas
para não assassinar Ghoete.
Sou verde-amarelo, sim Senhor,
entretanto, não sou xenófobo.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

LEMBREI DE FERNANDO PESSOA

Depois de muito tempo
trancado dentro de casa,
procurando nos compêndios
a chave dos enigmas
que inquietam a humanidade,
lancei  os olhos à rua,
através da fresta da janela,
e avistei um jumento
comendo capim,
abstraído do mundo.

Naquele instante pensei:
nas plantas que crescem
e purificam a atmosfera,
e não fazem perguntas
Nos pássaros que executam
a sinfonia da natureza
e não sabem disso
Nos regatos serenos
rolando para os rios,
desembocando nos mares,
à margem dos sistemas
filosóficos do mundo

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

NÃO SUGIRO QUE SAIAM ACOLHENDO CÃES, MAS...

Num dia em que os samaritanos
estavam míopes
um cão, com as patas quebradas,
foi jogado à rua.

Muitos passaram por ali
mas, todos, tão ocupados.
não tiveram tempo
para o bicho doente

Passou o político
maturando projetos,
passou o crente
conectando os anjos,
passou o poeta
sonhando com as musas...

Por fim, passou o catador de papel
com a mente vazia
de qualquer pensamento elevado,
tropeçando sob o  efeito do álcool,
juntou o animal, subiu e desceu a rua,
procurando o dono do cão,
mas não encontrando ninguém interessado,
decidiu:
não posso deixar esta criatura de Deus
à mercê da própria sorte e o levou consigo,
e  durante o tempo necessário,
cuidou das feridas, compartilhou a cama
e o pouco alimento de que dispunha...

domingo, 4 de fevereiro de 2018

O PAÍS DOS HOMENS TRANQUILOS

A todos vocês que disseram tantas vezes
já não suportar mais a vida neste país,
que pretendiam ir embora para outro lugar,
pergunto, que lugar é esse que almejam?

Pois é. Eu sei que já tentaram escapar,
mas ficaram com a sensação do  jogador
á mesa do jogo, diante de uma sinuca de bico!

A conjectura  de que existe um  mundo ideal
produz no espírito o conforto equivalente
à instantaneidade de um relâmpago,
mas o infeliz sonha com o acesso
ao paraíso além de toda a utopia:
a terra dos homens tranquilos .

Nós, tão habituados com a terra dos estúpidos,
por certo ficaríamos bastante perplexos
com o modus vivendi no país dos homens tranquilos,
pois lá  não existem puxa-sacos , nem políticos,
nem tribunais, nem prisões, nem policiais
e a lei é uma mera formalidade
uma vez que não existem demandas.
No país dos homens tranquilos
os conceitos de governo, poder
e autoridade ficaram esquecidos
no léxico.
No  país dos homens tranquilos
o egoísmo, a ganância, a cobiça,
a vaidade há muito tempo
saíram de circulação
e a consciência é o parâmetro
nas relação interpessoais.

Agora, já ouço vozes inquietas:
queremos ir para  o país dos homens tranquilos!
Mas preciso lhes dizer que nós,  habitantes
do país dos maquiavélicos e do jeitinho calhorda,
ainda não estamos  aptos a fazer a conexão direta,
precisamos antes passar pelo país dos renegados,
depois pelo país dos homens exaltados,
em seguida cruzar o país dos homens eufóricos,
atravessar o deserto dos homens afoitos
para penetrar, finalmente, no país dos homens tranquilos...


sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

ESTADO MÍNIMO

Não estou empunhando a bandeira do anarquismo
em face da necessidade da ordenação mínima
e orgânica  dentro do estado de direito

É necessário fazer algo para destruir o vírus
que corrói o sistema político/administrativo
do elefante branco insustentável.

Haja vista a situação deplorável do balaio de gatos
onde os partidos políticos se especializaram
na condução do processo das maracutaias.

Com a aprovação do estado mínimo
haverá menos gente mamando nas tetas públicas
às expensas dos problemas nunca equacionados.