A minha Lista de blogues

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

SONS E TELAS

 Era manhã e chovia suavemente

quando acordei sob os acordes de Vivaldi

executados magistralmente pela passarada

e o meu ser ficou entregue á magia.


Momentos assim plenos de contentamento

dizem ao meu coração  que é bobagem

gastarmos energia em buscas aleatórias

em alvos improváveis ditados por modismos...


Houve um tempo em que os tapumes

escondiam as belezas naturais da cidade,

mas hoje surgiram tapumes mais nocivos:

são as telas conectadas ao túnel digital.


domingo, 22 de novembro de 2020

QUE VÍRUS XAROPE!

 Diziam-me que o "coronga"  era chato,

mas não imaginava tanto.

Faz uma semana que a coisa não me larga

Este hospedeiro é um chiclete indesejado.

Ando todo o tempo na canseira,

com dores pelo corpo inteiro,

  dificuldade com os alimentos,

pois o paladar ficou horroroso.

Vou encerrando por aqui

antes que a sonolência me apague...


domingo, 15 de novembro de 2020

ESTE CORONA!

 Meu hospedeiro é muito chato

 Provoca-me a todo o instante.

Lê meus pensamentos

e os replica sempre..

Hoje, por exemplo,

sugere-me que eu vá à rua:

seja patriota - vote!

Digo que não e não e não

Não irei infectar as pessoas sadias

Ele fala que sou preconceituoso:

se o "Tio Sam" fosse o meu pai

por certo sairias à rua contente

e me tratarias com devoção e carinho.



domingo, 8 de novembro de 2020

POIS ENTÃO !

 

 Naquele tempo
saí à rua pedindo
eleições diretas:
gritando por direito
de votar.
Meu tio olhava
aquilo de longe,
dizendo:
Queres engordar
as demandas
dos oportunistas,
pensado que fazes
grande coisa.
Eu retrucava:
a coisa está errada,
é necessário mudar
a estupidez regimentar,
que não permite
o eco da minha voz.
O velho treplicava:
se queres mudar algo
não delegues nada a ninguém.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

VOTOS DE CORDEL

 

No dia das eleições,
os votos entraram de greve
a ao contrário dos movimentos
orquestrados pelos sindicatos,
os votos estavam quietos.

Os candidatos nervosos,
falavam coisas desconexas,
prometiam mandatos decentes,
procuravam vender a impressão
de honestidade repentina.

As horas foram passando,
as urnas estavam vazias,
os candidatos foram às ruas
tentando adular os votos.

Foi um festival de cartazes,
faixas, bonés, camisetas,
música, doces e mimos,
mas os votos permaneciam escondidos.

Lá pelo meio da tarde
os candidatos desesperados
foram atrás da polícia.
Pediram que a lei prendesse os votos.

Àquela altura do evento,
apareceu a mídia de fora
para ver o confronto de perto.
A força repressiva diante dos holofotes,
constrangida, calculista, decidiu:
não vamos achincalhar nossa imagem!
Ficaram de braços cruzados..

Veio o dia seguinte.
A mídia não falava de outra coisa
As manchetes dos jornais mostravam
os cargos de prefeitos  vacantes.
Os votos trocavam mensagens:
melhor não termos governantes
do que entrarmos na onda daqueles mendazes!

quinta-feira, 2 de julho de 2020

TAPES

Tapes, teipes e tipos,
a cidade, a terra, os indios,
a lagoa, a areia e o campo.
O vento vinha da praia
abrir nossas cortinas,
parece que vejo as gaivotas
trazendo o cheio da infancia.

A lagoa, o trapiche, o espaço.
O primeiro beijo na areia.
O ontem, o retorno, a quimera;
volume de água antiga,
mirando a praia no tempo,
um sonho velho, viajante,
barco encalhado no sal
da lágrima seca ao vento

A chuva da manhã, o arco-iris,
o cavalo, o passeio e a brisa.
O cheiro do malmequer sobre a relva
e o gosto do fruto maduro.
O perfume dos eucaliptos vestindo a campina,
o aroma de mel no corpo,
na tarde suave de junho,
o sol transpondo a curva,
que traz a noite no bojo
e os faróis dos vaga-lumes.

Meu pai trazia à tarde
o cheiro forte do bagre
pescado a linha no "quarenta",
lembrança, efeito bumerange
páginha virada...faz tempo!
Tempo que a memória alcança...
o desejo queimando o corpo
na noite cálida de abril,
na rua treze de maio:
a carne vendida a quilo
na balança do prostíbulo.

A areia quente da praia
beijando a pele bronzeada
da sereia, distante, à toa
viajando além do horizonte
no outro lado do mundo
onde o céu corta as águas,
a namorada da lagoa sonhando
com o príncipe das Arábias.

Eu quero andar à esmo,
atar as pontas do tempo,
rever o meu Pessegueiro
derramando flor no espaço,
colher o figo maduro
e degustá-lo sem pressa
no quintal da minha vida.
Eu quero marcar um gol
no campo do  índio Ubirajara
no final do segundo tempo,
eu quero dourar o sonho
na sombra daquele umbú
antes que o jogo acabe.

Eu quero ir na prainha
logo abaixo da ponte,
beber no côncavo das mãos
a água azul da fonte,
na fonte  que já não existe
Quero levar meu corpo na cachoeira,
banhar a alma à noite...
Ah!... Devaneios de um homem triste.

Homens, pobres mortais
trazemos dentro de nós
um cordão magnético
atado às primeiras lembranças
por isso falo alto o teu nome
e mesmo carente de talento
tento pintar o teu rosto,
e, se algum dia por equívoco
me extraviar na poeira mundana,
mas qual filho pródigo,
à casa retornarei,
através de um poema.

domingo, 24 de maio de 2020

HOJE EU LEMBREI DE FERNANDO PESSOA

Depois de muito tempo,
trancado dentro de casa,
procurando nos compêndios
a chave de elucidação
dos enigmas que inquietam
a aturdida  humanidade,
lancei os olhos para a rua
através de uma fresta na parede
e avistei um jumento,
abstraído do mundo,
pastando com naturalidade.

Então, fiquei pensando
nas árvores que crescem,
alimentam outros seres,
purificam o ar do planeta
e não perguntam por quê?
Pensei nos pássaros que
alegram o espírito humano
e ainda não possuem
consciência disso.
Refleti sobre os regatos
que desaguam nos rios
e nestes que desembocam
no altos mares
desde o começo das eras,
à margem dos sistemas filosóficos
Por fim, gritando, recitei os versos
 do grande Fernando Pessoa:
"Pensar é estar doentes do olhos"


domingo, 17 de maio de 2020

LEMBRANÇA DO RAUL

Disseram-me:
não sejas presunçoso,
alienado, opiniático;
assista ao noticioso da tv
e fiques bem informado.
Acatei a sugestão.
Começou o jornal
tipo um mantra:
o vírus, o presidente,
o presidente, o vírus,
o vírus, o presidente;
cochilei, acordei,
continuava a cantilena:
o vírus, o presidente...
voltei a cochilar
e a acordar
e seguia o refrão:
o vírus, o vírus...
sai da frente da tela,
bebi uma água,
voltei à telinha
e andava o panfleto:
o presidente, o vírus,
o vírus, o presidente...
desliguei o troço.
Fui á janela tomar um ar.
Ai lembrei-me  de um pedacinho de música
do velho Raul, maluco beleza:
"Não preciso ler jornais,
mentir sozinho, sou capaz"
Mas o cara era maluco!?
Era meio doido.
Mas não era  cínico, mendaz, hipócrita,
essas coisas feias que hoje poluem o ar.



quinta-feira, 14 de maio de 2020

O TEMPO QUE PERDEMOS ASSISTINDO AS PORCARIAS DA TELINHA

Aposentado
que trabalha em casa
vive com a sensação
de que todos os dias
são segundas-feira.
O que me desplugava,
por momentos,
era os jogos pelo mundo.
Não me queixo
apenas registro.
Nestes dias sem 
futebol
li alguns livros
já empoeirados
em face da falta 
de tempo....
tempo que eu,
anteriormente,
consumia 
assistindo 
ao jogos 
na tv
Até pensei
em retirar 
a tv da sala,
do quarto, 
da cozinha,
porque
a gripecita
vai passar...
o futebol 
vai voltar
e por certo
não haverei
aprendido nada

sexta-feira, 3 de abril de 2020

AS NARRATIVAS

Quando o holofote da mídia deseja
o inacreditável acontece.
Eis a ordem do dia:
"Abram alas para a estrela, o vírus chinês"
Ah, lembro, dizem que a realidade é dinâmica...
Pois, então... 
A manada   no brete anda aborrecida,
mas, o sorriso dos midiáticos é amplo:
com todo mundo dentro de casa
a audiência atingiu às alturas...
Com o rebanho anestesiado, no brete,
todas as narrativas são viáveis...
Repetindo, a realidade é dinâmica:
agora ninguém morre de câncer,
de HIV, de infarto, de AVC,
de tristeza , de estresse...
Todos os óbitos são causados pelo Corona!
E se você duvidar poderá ser preso!


segunda-feira, 30 de março de 2020

O CONTRA GOLPE

Era pré-adolescente em 31 de março de 1964
e ainda lembro-me da comoção que senti
em relação ao velho (?) Jango, deposto !

Tudo soava-me confuso, medonho, cruel.
Eu,  criança,  inocente cai no conto do vigário:
a democracia sofrera um imerecido golpe!

Durante todo o longo período militar
estive a odiar os presidentes milicos
os denominando golpistas da Pátria.

Como vovó e as escrituras diziam tudo passa.
Então mal  passado o regime de exceção, pedia: 
que Deus nos proteja de qualquer outro GOLPE!

 Ainda por muito tempo, nos 31 de março pensava:
GOLPE, GOLPe, GOLpe, GOlpe, golpe,  será?
Mas hoje sei: aquilo foi o CONTRA GOLPE.

domingo, 29 de março de 2020

ACHO QUE AINDA NOS PERMITEM DIVAGAR EM TEMPO DE VÍRUS CHINÊS, PORÉM, NÃO SEI ATÉ QUANDO!

Lembro-me das palavras de mamãe:
a beleza tonteia.
Pois é...
Agora neste fim de tarde de Poa sinto-me
atordoado,
eclipsado,
embriagado,
tonteado
diante da beleza colorida das nuvens
que embalam o opúsculo da luz solar...
Acho, que no fundo, são palavras perigosas
tentando descrever de maneira afoita
aquilo que é apanágio do sentir.

quarta-feira, 25 de março de 2020

O CORONA E O CONFINAMENTO

O prefeito de Porto Alegre
rasgou a Constituição
e arbitrariamente cerceou
o sagrado direito de IR e VIR
Os fiscais arregimentados
e pagos com nossos impostos
não permitem que nós (idosos)
saiamos à rua...
Não sei se nosso carrasco
é cobra mandada do Pc chinês
ou capacho da mídia comprada e vendida,
incentivadora da política da "terra arrasada",
arquétipo do quanto pior melhor.
Não compreendo o silêncio do Ministério público
diante da vilania do ato criminoso!
Bem, num país onde até o Supremo Tribunal Federal
que deveria ser o guardião da nossa Constituição
comete atrocidades contra a Carta Magna,
talvez a saída viável seja mesmo o aeroporto.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

REDUNDÂNCIAS

Nada mais redundante
que o refrão que cantarolavam
 semana passada no Youtube:
"Tenho saudade da saudade
que sentia tempos atrás
Como assim?
Seria, porventura, saudade batizada?
Ou, por outra, o deleite absorvido
através das rememorizações
das memórias teimosas?
Pensando melhor, que tenho a ver
com lembranças alheias?
Talvez nada, apesar de ler autobiografias!

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

A EXISTÊNCIA É UM SOPRO

Eu que venho longe,
lá do meio do século passado,
pensava comigo quando infante:
estarei passado, com 50 anos
ou velho, sabe-se lá,
na virada do milênio...
Bom que vai demorar uma eternidade
para que isso aconteça...

Mas os anos passaram correndo,
as décadas voando,
os parentes morrendo,
o reumatismo chegando,
o comunismo ameaçando...
Já é 2020, que loucura...
Não sei se estou velho...
Desconfio que estou na idade do "com dor"