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sábado, 23 de junho de 2018

AS ANDORINHAS

Ainda lembro de mim à janela
esperando as andorinhas.
De repente o céu ficava escuro,
o vento, forte, soprava do sul,
as andorinhas voavam para o leste
e eu antegozava o cheiro da chuva.
Era questão de tempo e a água descia.
Eu de alma lavada esquecia do mundo.

Outras vezes, nas manhãs  ensolaradas,
as andorinhas faziam o ensaio da chuva.
Então, a gente sabia que iria chover,
e ainda que a meteorologia dissesse o  oposto
naqueles dias sempre acabava chovendo.

Hoje, descendo a ladeira da vida,
ouvindo as previsões anunciar
que uma frente fria trará chuva,
debruçado em outra janela,
lembro do passado e falo
com a criança que eu fui:
são as  andorinhas que trazem chuva!

terça-feira, 19 de junho de 2018

AÇÃO E INAÇÃO

Quando eu contornava
o fim do parque,
onde começava a floresta,
praticando meu cooper,
via um homem parado,
olhando na minha direção.

O sujeito me impressionava,
porque naquela época,
eu era um jovem inquieto,
andando de um lugar a outro,
abduzido pelo movimento.

Quando eu passava por ali,
via o homem inerte, feito estátua.
De início aquilo não me incomodava,
mas depois de algum tempo,
veio-me um estado de angústia.

Curioso, um dia abordei o homem
e perguntei-lhe o que ele pensava
sobre o meu  exercício
Daí, ele perguntou que atividade eu praticava
- então perguntei: não me vês passando por aqui,
sempre aos finais de tarde?
- Ora, nunca havia percebido, pois cuido do meu mister.
- Mas o que tu fazes aí parado, sem ver as coisas à tua volta?
-  Bem, depois do trabalho, eu exercito, por algum tempo, a arte de ouvir o silêncio

terça-feira, 12 de junho de 2018

TUDO PASSA

Lá no começo da estrada,
eu aprendi algumas coisas,
que agora não servem  mais
como datilografia, por exemplo,
em máquinas  mecânicas e elétricas;
também informática através de cartões perfurados.
Sem falar na arte de operar antigos  mimiógrafos
Ainda me ensinaram boa conduta, respeito, ética;
essas coisas que foram jogadas  na lata do lixo.
Nada no mundo líquido já  me impressiona muito,
à medida que sei  que  a novidade badalada de hoje
será a sucata ridicularizada de amanhã.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

DESABAFO -

Antes da guerra civil
se instalar por aqui
a vida era calma.
Acho que era ano 71 ou 72,
eu saia todo fim de mês
do antigo Banco Nacional,
aquele do guarda-chuva
(lembram?),
agência da Rua Uruguai
com as cédulas na mão,
sem correr riscos,
porque não havia ladrões
à espreita dos nossos trocados.
Porém, pouco a pouco,
os olhos da gateada
foram preteando.
E nos dias atuais
a situação está insustentável.