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quinta-feira, 2 de julho de 2020

TAPES

Tapes, teipes e tipos,
a cidade, a terra, os indios,
a lagoa, a areia e o campo.
O vento vinha da praia
abrir nossas cortinas,
parece que vejo as gaivotas
trazendo o cheio da infancia.

A lagoa, o trapiche, o espaço.
O primeiro beijo na areia.
O ontem, o retorno, a quimera;
volume de água antiga,
mirando a praia no tempo,
um sonho velho, viajante,
barco encalhado no sal
da lágrima seca ao vento

A chuva da manhã, o arco-iris,
o cavalo, o passeio e a brisa.
O cheiro do malmequer sobre a relva
e o gosto do fruto maduro.
O perfume dos eucaliptos vestindo a campina,
o aroma de mel no corpo,
na tarde suave de junho,
o sol transpondo a curva,
que traz a noite no bojo
e os faróis dos vaga-lumes.

Meu pai trazia à tarde
o cheiro forte do bagre
pescado a linha no "quarenta",
lembrança, efeito bumerange
páginha virada...faz tempo!
Tempo que a memória alcança...
o desejo queimando o corpo
na noite cálida de abril,
na rua treze de maio:
a carne vendida a quilo
na balança do prostíbulo.

A areia quente da praia
beijando a pele bronzeada
da sereia, distante, à toa
viajando além do horizonte
no outro lado do mundo
onde o céu corta as águas,
a namorada da lagoa sonhando
com o príncipe das Arábias.

Eu quero andar à esmo,
atar as pontas do tempo,
rever o meu Pessegueiro
derramando flor no espaço,
colher o figo maduro
e degustá-lo sem pressa
no quintal da minha vida.
Eu quero marcar um gol
no campo do  índio Ubirajara
no final do segundo tempo,
eu quero dourar o sonho
na sombra daquele umbú
antes que o jogo acabe.

Eu quero ir na prainha
logo abaixo da ponte,
beber no côncavo das mãos
a água azul da fonte,
na fonte  que já não existe
Quero levar meu corpo na cachoeira,
banhar a alma à noite...
Ah!... Devaneios de um homem triste.

Homens, pobres mortais
trazemos dentro de nós
um cordão magnético
atado às primeiras lembranças
por isso falo alto o teu nome
e mesmo carente de talento
tento pintar o teu rosto,
e, se algum dia por equívoco
me extraviar na poeira mundana,
mas qual filho pródigo,
à casa retornarei,
através de um poema.

8 comentários:

  1. Olá, Dilmar, quanto tempo, saudades desse cantinho!
    O poema é maravilhoso, meu amigo, é um grito de saudades de tudo que se viveu, escrito com o coração em plena pandemia, momentos de dor em todos os cantos, momentos de saudades dos que partiram!Um bom fim de semana!
    Grande abraço!

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  2. Já tinha saudade de ler os seus poemas, sempre fascinantes. É brilhante a sua forma de "brincar" com o trocadilho das palavras. Que poema lindíssimo aqui acabei de ler. Saio fascinado.
    .
    Tenha um dia de Paz e Amor

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  3. Não vale a pena ter devaneios tristes! Gostei de o ler, à quanto tempo!:)
    .
    Deambulo no baú dos sentimentos ...

    Beijo e uma excelente Sexta Feira

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  4. Uau! Você simplesmente arrasou!!!
    Teu poema fala dentro do leitor. Também me despertou algumas lembranças de quando eu era jovem. Era moda andar sempre bronzeada. A gente não usava saia de jeito nenhum lá em casa sem antes tomar um sol!
    A praia era sempre o melhor local de diversão. O sol não matava, nem dava câncer...
    Foi isso.

    Abraços, bom final de semana!

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  5. Oi Dilmar!
    Muito lindo teu poema. Trás saudades, tocaste nossos corações.
    Abrçs

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Meu querido você continua escrevendo aqui, nossa quanto tempo... Adorei reler! Abç

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  8. Visitando e perguntando porque não há publicações novas? Doente?
    .
    Saudação amiga
    Um domingo feliz

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