Sabe aqueles dias em que estamos a divagar
e de repente vêm à tona reminiscências
relacionadas à nossa remota infância,
eventos pitorescos, hilários, folclóricos;
instantâneos privados do cotidiano familiar.
Tais fragmentos, pequenos flocos de algodão
deslizando no céu azul da lembrança,
formando o tecido da colcha memorial,
levando-me a relatar de imediato, sem constrangimento,
ao primeiro transeunte que encontro pela frente:
Minha mãe em consulta com o oftalmologista,
pergunta, sem preâmbulos, ao especialista dos olhos:
querido, por que sinto dor no meu pé esquerdo?
E o oculista recomenda-lhe um ortopedista,
mas minha mãe inconformada, rebate de pronto,
ué, então o Senhor não é médico?
Minha vó, certa feita, comendo um sanduíche caseiro
na calçada, à porta de um restaurante,
quando surpreendida pelo gerente da casa:
a Senhora não pode ingerir alimentos particulares,
à entrada do meu estabelecimento!
E ela, sem pestanejar, com o dedo na cara do rapaz:
estou usufruindo do meu direito cidadão
de ir e vir, pela via pública, com meus pertences!
Meu primo Zé, que tinha leves distúrbios,
chegando esbaforido, na minha casa:
Tio, tem um homem enforcado ali na esquina.
Então, meu pai vai até a bifurcação da rua
e não percebe nenhuma anormalidade,
mas Zézinho justifica-se, sem perturbação:
o homem ao qual me refiro, morreu enforcado
na esquina do livro que estou lendo!
Bem, pessoal, por hoje chega de anedotas!
Viver é um dom!
Há 2 semanas