A minha Lista de blogues

terça-feira, 29 de julho de 2014

MARIO, IMORTAL, QUINTANA

Mario de Miranda Quintana, poeta gaúcho,
nasceu em 30 de julho de 1907 e faleceu
em 05 de maio de 1994.

A figura do Mario, para nós, que amamos a poesia
e tivemos a graça de compartilhar a mesma cidade, as mesmas ruas,
sempre pareceu aquele tio diferente, próximo, porque
cruzávamos com ele seguidamente, mas distante, porque
era um ídolo; mas por mais absurdo que pareça, Mario
foi o ícone da simplicidade.



Quando Mario Quintana trocou de roupa
ficava à distância do grupo de poetas
empertigados.
Parecia-lhe que não estava à altura
dos confrades.
Lembrava das vezes que concorrera
à Academia Brasileira de letras
e fora derrotado.
Um dia, Érato, a Musa da poesia lírica,
tranquilizou o poeta:
Mário, tua simplicidade te imortalizou!

segunda-feira, 28 de julho de 2014

O HOMEM INTELIGENTE

Refuto, com todo o respeito,
a tese do genial Ernest Hemingway:
" O homem inteligente é por vezes forçado
a embebedar-se para conseguir aguentar
os idiotas que cruzam por seu caminho"
Acho que o homem inteligente compreende
a diversidade do intelecto
e a capacidade assimilativa humana,
convivendo gradativamente com todos
sem elevar ou rebaixar o semelhante.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

EL NIÑO

A chuva que há alguns dias caia
no Nordeste e Norte do Brasil
está descendo aqui no sul.
Neste inverno sem inverno,
o sul fica com outra cara.
Nossas campinas vestidas de geada
nas manhãs de outros invernos
parecem agora estrangeiras.
Dizem os experts metereológicos
que estamos sob o império do El Niño,
menino sapeca, de infância torta,
que fica a brincar com as águas
das comportas climáticas.


segunda-feira, 21 de julho de 2014

VERSOS BRANCOS

Quando eu procurava nome
 para as coisas que mexiam comigo
buscava definição para os versos
que encontrava nas folhas impressas.
 Quando soube que o universo
das palavras mágicas
se chamava poesia
me deparei com Iracema
 a virgem dos lábios de mel,
 e ficava procurando as rimas em vão...
Quando me disseram que se tratava
de uma obra de prosa poética,
 eis o espanto...
também soube que havia no rol poético;
métrica, sílabas, rimas, sonetos,
redondilhas,  alexandrinhos,
versos brancos...
Enquanto leitor juvenil
punha em segundo plano
versos destituídos de rimas,
mas quando comecei a escrever
meus versos pobres,
aderi de imediato
 aos versos brancos.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

ANALOGIAS

Eu viajava na Quadrilha
do nosso imortal Drummond:
"João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim
que amava Lili que não amava ninguém.

Eu lia a biografia do casal Santre/Beauvoir:
Era Sarte que amava Simone que amava Bienfield
Era Simone que amava Sarte que deitava com Olga
que amava Bost que transava com Simone
Era Simone que amava Sorokine
que acasalava com Sartre.
Era Simone Era Sarte eram mulheres  no meio
eram homens na vida de Simone
para equilibrar a relação dos filósofos...

De repente liguei a tv para sair do rame-rame:
era Helena que amava Laerte
que não amava Luiza
que achava que amava alguém
Era Virgílio que entrava na história
para fechar o quadro do roteirista
Era Shirley que amava o passado
Era Kadu que amava Clara que amava Marina...
Mais alguém?


segunda-feira, 14 de julho de 2014

A ARTE DE PERDER

A festa acabou
de forma melancólica
para nós, brazucas.
Nenhum problema
fazer festa para convidados.
Acho que o povo alemão
agradece.
Problema foram as derrotas
acachapantes da última hora.
Procurei consolo no folclore,
nos adágios, nas teses,
nas frases explicativas,
mas nada convence-me.
Lembrei-me de Dino Sani,
 antigo jogador e treinador,
com suas pérolas:
"Futebol é uma caixinha de surpresas"
"No futebol se ganha, se empata, se perde"
Realmente se ganha, se empata e se ...
Mas a cruel verdade
é  que o futebol existe
para a perda de títulos,
haja vista dos dados estatísticos,
 para cada troféu conquistado
haverá várias taças perdidas
Em síntese, futebol é o esporte
das derrotas
e da esperança também,
uma vez assimilado o fracasso
aposta-se todas as fichas
na próxima competição.






sexta-feira, 11 de julho de 2014

CADÊ O INVERNO?

Ao meio do mês de julho
o dia amanheceu com o jeito
de um dia de setembro,
com uma temperatura mediana
atípica para o alto da estação,
o que me leva a perguntar,
cadê o inverno?
Aonde foram parar
os dias gelados de julho,
vestidos de geada e neve?
Tenho um amigo,
de natureza brincalhona,
que há dias vem dizendo:
calma, o inverno virá
quando entrar a primavera!

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A CASA CAIU

Diz-se que o melhor da festa é esperar por ela.
Na verdade, muitas vezes, o antegozo da possibilidade
será o resíduo que se guardará com carinho,
 quando  o vendaval da realidade
destruir nossa casa de vidro.

Diz-se que nem sempre o sol brilha
- falava aquela velha canção dos anos 70 -,
também há dias em que a chuva cai.
Mas a chuva de gols que sofremos ontem à tarde
teve a força de um descomunal tsunami.

As ruas  estavam pintadas de verde-amarelo,
as crianças sonhavam com a taça,
mas bastou vinte minutos de peleja
para ruir nosso castelo de areia.




segunda-feira, 7 de julho de 2014

LEMBRANÇAS

Desde cedo, a variedade comportamental
faz-me dar trato à bola.
Outro dia remexendo no bau de memórias,
encontrei uma foto da primeira comunhão.
De pronto retroagi mentalmente àquele tempo,
aos episódios relacionados à catequese.
Vi as caras dos meus comparsas
e ouvi as arengas dos meus camaradas.
No filme que rodava no cérebro
ressurgiu o Serginho, menino bom, crédulo
e lacrimoso, por ocasião das falas relativas
a dicotomia do bem e do mal.
Revi o Jonas, um carinha tipo São Tomé,
descrente de tudo o que não via,
não cheirava e não tocava.
Avistei a Martinha, sempre tensa
durante as aulas preparatórias,
pois achava que a salvação
era uma meta impossível
em vista da tentação do pecado
por toda a parte.
E por fim o Chiquinho, ou a síntese do cinismo,
na exuberância do discurso:
para quê a preocupação com o inferno
se a gente pode fazer tudo o quê der na telha
desde que haja o arrependimento
ainda que no derradeiro minuto de vida?


quarta-feira, 2 de julho de 2014

VERGONHA DE SER

João parou de ouvir músicas da MPB,
Xaxado, Baião e Bossa Nova,
também deixou de assistir aos jogos
da seleção canarinha...
João sabe que a situação politica pátria vai mal
e  confunde alhos com bugalhos,
e começa a sentir vergonha de ser brasileiro.
João pensa com seus botões:
que bom seria se eu houvesse nascido argentino,
norte-americano, colombiano, paraguaio...
João passa o tempo carrancudo diante dos outros,
vive se policiando, com medo
de que seu rosto o traia e, num momento de descuido,
estampe a alegria de outrora...
Nos dias antecedentes à copa do mundo do Brasil,
João entra em crise desesperadora e fica matutando:
por que justo o primeiro jogo é o nosso?
João pensa em viajar para o exterior,
mas por falta de recursos decide torcer escondido
Na hora do jogo, João fecha as portas e as janelas da casa...
No instante do primeiro gol  do Brasil, passa alguém pela calçada
em frente  à casa e grita: ai Seu João, vibrando com o Brasil!
João, com o rosto vermelho, retira o som da tv,
mas continua assistindo, gesticulando, pulando, sorrindo...
Termina o jogo e João não consegue se conter
e sai a caminhar pela rua, ouvindo os rescaldos do jogo
no fone de ouvido do aparelho celular...
Quando algum conhecido pelo caminho lhe pergunta
se está ouvindo os comentários da partida,
de pronto, ele responde: estou curtindo Elvis Presley!