Tive dificuldade com matemática e física
durante o curso secundario.
Números e cálculos, naquele tempo,
foram meus algozes.
Nas proximidades do final
de cada ano letivo,
angústia e medo
eram minhas parceiras
e a certeza de recuperação,
mais provas de segunda época.
Entretanto, no terceiro ano,
conclui o curso com tranquilidade.
Mas a reversão da expectativa
aconteceu graças à ajuda externa,
vinda de onde eu não imaginava.
Justo, naqueles dias,
ao finalzinho das tardes,
aparecia um andarilho lá em casa
e ficava tomando chimarrão conosco.
Éramos os únicos que o acolhíamos.
A rua inteira tinha medo do cara.
Diziam que ele poderia ser perigoso.
Uma ocasião, o cara percebeu
minha incompatibilidade com os cálculos
e para o meu espanto ofereceu assistência.
Vendo minha cara de desconfiança,
o rapaz falou que a dificuldade de compreensão
existia em virtude da sistemática ortodoxa do ensino.
Disse que faltava aos professores,
versatilidade de método.
Com o passar dos dias percebi,
que o cara improvisava, destrinchava conceitos,
aparava arestas...Era um enciclopédia ambulante!
Sob a orientação daquele "elemento perigoso"
era impossível não assimilar os contéudos
que antes foram-me tão espinhosos...
No final daquele ano,
o cara passou lá em casa,
antes de prosseguir seu destino
de peregrino do mundo.
Foi quando a polícia apareceu
atrás do nosso amigo.
A lei vinha a pedido dos vizinhos.
Menos mal que tudo foi esclarecido:
o jovem era formado em nível superior
por universidades americanas
e procedia de familia digna.
Nós ainda insistimos para ele ficar
em nossa cidade,
que iríamos tentar colocá-lo no mercado de trabalho,
mas ele agradeceu e justificou,
que não passaria em qualquer teste psicologico,
pois tinha problemas mentais...fora considerado
pela ciência, um inútil!