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quarta-feira, 31 de maio de 2017

CIGARRO NUNCA MAIS

Hoje, 31 de maio, dia mundial da luta contra o tabagismo,
eu, ex-fumante desde 2004, faço esta repostagem.
A postagem original é 2010.




Naquela época
em que eu era
dependente do tabaco
sentia a engrenagem do tempo
mover-se de forma
seccionada.
Os dias e as noites
eram cortados em fatias
específicas, segmentadas;
esses períodos estanques
eram delimitados
pelos cigarros consumidos.
O gosto acre do fumo
trazia-me preso
ao sistema preconcebido
por mim mesmo, dependente
de uma ideia introjetada
a qual me fizera
escravo de um paradigma.

Agora o tempo
voltou a ser um bloco compactado
sem limites, divisões ou sobressaltos,
com pouca coisa definida ou automatizada
e as operações necessárias
à manutenção anímica
são administradas aleatoriamente
em consonância com o estado de espírito.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

NO MATO SEM CACHORRO

Ah, diante deste escracho,
rio ou choro?
Neste oceano de falcatruas,
onde os safardanas zombam
de quem cultiva a decência,
por conta do foro privilegiado,
e os últimos mandantes gerais
dançam  a  valsa  dos  corruptos,
escorados no manto da impunidade.
Assisto, incrédulo, manifestantes
gritando: queremos eleições já!
A pergunta que não quer calar: para quê?


quinta-feira, 25 de maio de 2017

TRABALHO

Há alguns anos, uma empresa
pôs anúncios nos jornais
para preenchimento
de vaga de trabalho
com admissão imediata;
proposição de bom salário
mais vantagens adicionais
e em contrapartida pedia:
alguma prática funcional,
um pouco de escolaridade
e, sobretudo, desprendimento.
O segmento alistável
imaginou que se tratava
de algum produto novo
a ser lançado no mercado.
Todos os vendedores da cidade
passaram pelo recurso humano
da empresa contratante,
mas por largo tempo
 ninguém foi selecionado.
Um dia, a firma colocou à porta
aviso de que a vaga fora preenchida,
e em anexo a justificativa da procastinação:
os candidatos, embora virtuosos,
não convenciam, porque procuravam emprego
e aqui oferecemos trabalho.






segunda-feira, 22 de maio de 2017

VELHOS

Parece que muitos não velhos deste país
imaginam que serão eternamente  jovens
porque, via de regra, tratam  os idosos
como se os mesmos fossem  inanimados.

A turma ativa diz que o velho é um peso
a  atrapalhar  a via  rápida  dos  novos:
que  produz bem pouco para o sistema
e em compensação fala muito do pretérito

Bom para o idoso é ser artista tupiniquim,
sobretudo, se o ente fez um nome na praça
porque nestes não se olha  a marca do tempo
nem se excomunga o pecado da pele enrugada.


Nota: minha gente, apesar de parecer mágoa
extravazada nos versos no post, o poema
não foi escrito sob o espírito do recalque,
mas baseado na observação cotidiana das
relações entre as faixas etárias

segunda-feira, 15 de maio de 2017

MEDO

Bendito  tempo aquele
em que eu tinha medo
da mula sem cabeça
e de outras histórias
do nosso folclore
Bendito era o tempo
em que eu tinha medo
de filmes de vampiros
e dos livros de terror
do cult H P Lovecraft.
Bendita aquela época
em que eu andava a esmo
durante as madrugadas
pelas ruas deste país,
porque o perigo que havia
era topar com alma penada
procurando o caminho de casa.


quinta-feira, 11 de maio de 2017

A HISTÓRIA

A Historia seria diferente
se o sol não separasse
os dias das noites.

Fosse sempre dia
ou sempre noite,
a contagem do  tempo
seria sempre zero

Daí deduzimos. que
Heródoto não é
o pai da criança,
porque o verdadeiro
mentor da História
é o Sol.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

ARTISTA

Dizem que a passagem do tempo
é igual para todos os viventes,
mas quando se trata de artista
ai já  é outra história..,
Hajam vistas, os artistas
saindo do tubo de formol
com a face lisa aos  oitenta
e a cabeleira bem composta
tal  qual se vê em gente moça.
O artista se vê diferenciado
porque a turba o  enxerga
através de outras lentes.
Por vezes. nem tanto
pela arte em si mesma
mas pelo que sai da boca
do arauto engajado.


Nota: ficou a impressão de que generalizo, mas não tenho
essa pretensão. O poema faz referência a algumas figurinhas
carimbadas. Talvez o caro amigo e a cara amiga  que me
leem, lembrem-se de cara, de algumas das figuras a que
faço alusão, em off.




sexta-feira, 5 de maio de 2017

SERES PERVERSOS

Seres perversos, reencarnados aqui,
têm causado danos inomináveis
aos cidadãos de bem deste país.
Haja vista a barbárie praticada
na cidade do Rio de Janeiro
como a queima dos coletivos
sem uma gota de remorso.
Eis apenas um dentre
múltiplos eventos
de malignidade
de todo o dia
Seres desalmados,
assaz perversos,
outros ignóbeis
até certo ponto,
por preguiça
ou desleixo;
eis a seara
de   almas
presentes
agora.




terça-feira, 2 de maio de 2017

HOUVE UM TEMPO

Houve um tempo em que os dias eram  primaveras
de manhãs serenas,  matizadas de anis e  tardes azuis.
As nuvens, quando haviam, eram plácidas e  brancas
e a música que preenchia a alma vinha  das galáxias.

Houve um tempo em que os dias  eram azuis-turqueza,
e as histórias que eu  lia tinham sempre um desfecho bom.
Quando as narrativas saiam do script por mim desejado
eu as modificava, mentalmente, para o deleite do espírito.

Ouve um tempo em que os dias eram como girassóis
e a brisa que vinha da rua tinha uma aroma especial
Os pirilampos estavam presentes por toda a parte
e o arco-íris emoldurava o céu de cada dia.

Houve um tempo que ficou guardado no tempo,
 uma época em que tudo fluía lentamente,
entretanto a gente queria queimar etapas;
almejava ser adulto de uma vez