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sábado, 31 de março de 2012

CÂNDIDA

Este poema é o resultado de um exercício mental, feito em memória
à longa noite iniciada em 31 de março de 1964, a qual duraria
mais de vinte anos. Essa noite é uma mancha que envergonha a História
brasileira.
           

           CÂNDIDA

A mudança comportamental de Cândida
aconteceu logo depois do revelion daquele ano
em que o rádio tocava aquela canção dos incríveis:
"Eu te amo, meu Brasil, lá-ra-lá...
Naquele momento, Cândida se transformou
numa defensora exaltada das teorias esquerdistas,
justamente ela que fora a criatura
mais doce e "cândida" que eu conhecera.
Tudo começou quando ela raspou a cabeça,
quebrou os discos de Beethovem,
jogou fora os dólares da carteira,
rasgou os talões de cheques,
queimou os livros de Sartre...
Depois ficou trancada
dentro duma barraca, na Praça da Redenção,
lendo as cartilhas Marxista, Castrista, Brizolista...
Após meses de Clausura,
Cândida saiu andando com os olhos fixos
num ponto imaginário,
atravessou o centro da cidade
e pronunciou um discurso febril
na esquina da Rua da Ladeira:
"Minha gente, a vaca foi pro brejo.
É noite escura e não sabemos quando o sol virá!
Hoje se tornou inviável
o salutar combate disputado
no tabuleiro das ideias.
Mas a revolução sonhada pela  esquerda festiva
e escrita pelos intelectuais engajados
foi para as cucuias,
porque no momento não possuímos armas
e sem fuzis não haverá guerra
e se fôssemos loucos de fazer uma gerrilha,
seria uma luta desigual.
Dito isto concluímos que as utopias
são lindas no papel.
Para fechar a primeira parte da nossa conversa
quero dizer-vos, que para sair do atoleiro
serão necessárias atitudes sensatas, então,
Eu, Cândida da Silva,  proponho
algumas sugestões práticas.
Meus adeptos, candinhos e candinhas,
podemos pedir asilo na Dysneilandia,
avançarmos a Amazônia a dentro
e sobrevivermos das frutas silvestres
ou ainda, aderirmos a um processo
de hibernação voluntária, até o dia de cair
esta malfadada ditadura.
Àquela altura da palestra
eu senti que Cândida estava perdendo o juiízo,
e egoísta como só o ser humano sabe ser,
acabei me retirando dali para não endoidar também...
O tempo passou,
o sistema ruiu,
os exilados voltaram,
as eleições aconteceram,
a corrupção prosperou
e o crime se organizou...
Eu fiquei sem saber mais nada
sobre a vida de Cândida,
mas numa noites dessas, quando
navegava pela internet,
soube que ela vive atualmente na Africa
e se encontra à testa de uma ONG, que cuida
dos famintos daquele continente.
Soube também, que Cândida não pretende
retornar à pátria, pois sente vergonha
da acomodação que ocorreu aqui.
Hoje, ela descrê de todos os ismos:
O socialismo de Cuba,
O capitalismo selvagem.
O imperialismo do Norte,
 O cinismo do Brasil.
O coração de Cândida clama
por um sistema humanitário
onde a dignidade esteja em sintonia
com a lei e a justiça
e todos os homens voltados
para o bem comum...


quinta-feira, 29 de março de 2012

VENCER

O guru dos anos setenta
disse mais ou menos isso em Ouro de Tolo
"Eu venci, mas não posso ficar parado,
pois tenho uma porção de coisas para conquistar"

Desde os primórdios do nosso entendimento
estamos a ouvir diariamente
palavras de  incentivo e estímulo
no sentido de vencer na vida.

A família, a escola, a mídia
e os livros de auto ajuda
repetem o tempo inteiro:
os fortes colocam seus nomes
na galeria do sucesso.

Lembro- me de quando eu tinha
uns dez anos de idade,
que havia uma senhora na minha rua
e toda  vez que ele ela ia à nossa casa
fazia um escaut da vizinhança:
Antonio é um vitorioso,  tio trabalhador!
José um fracassado, também,  um molenga.
Pedro venceu na vida, um bravo!
João não sai do chão, pudera, vadio!
Quando meu  pai estava por por perto,
para acabar com aquela arenga,
mal a distinta mulher cruzava a porta,
ele dizia, comadre , melhor guardar o caderninho!

Mas voltando ao início da polêmica,
às vezes, parece que a vida
é uma disputa, uma competição, uma guerra.
Pior que para muita gente  é!
Dizem até que os mais aptos vencem
e que os mais preparados se estabelecem.
Mas afinal, o significa vencer na vida?

domingo, 25 de março de 2012

26 DE MARÇO DE 1772

240 anos é uma eternidade,
uma cifra numérica impossivel
de ser presenciada por um mortal,
que raramente alcança a trajetória de um século,
mas para o fluir do tempo
este número é uma  fração quantitativa
quase insignificante.

Mas por quê,  certamente, perguntarão,
agora esse assunto temporal?
É que a cidade de Porto Alegre
está completando 240 anos!

Nossa Porto Alegre,
amada por tanta gente
e odiada pelos rabugentos que dizem:
Ah, Porto Alegre é uma cidade velha
de um clima insuportável;
abafada no verão
e gelada no inverno!
Além disso está a 100 kilometros
distante do mar.
Realmente, o mar está um pouco distante,
mas parece que os reclamões esquecem
que temos um rio aos nossos pés,
com uma orla cheia de encantos.

Conviver diariamente com uma cidade
lembra a história do casamento,
pois, às vezes, no transcorrer do tempo
fica-se com a falsa impressão de cansaço.
Mas sempre é possível achar novos encantos
na urbe do nosso coração.
Para isso é necessário tirar férias daquele jeito antigo
e olhar a cidade com olhos de turista.

Porto Alegre, te amo!



quinta-feira, 22 de março de 2012

ÁGUA

Dia 22 de março dia da água,
e eu fico pensando na música
de Guilherme Arantes, Planeta Água.



No início da formação da terra
a água estava por toda a parte,
mas pouco a pouco o líquido
foi se juntando em pontos específicos
e da porção primitiva dágua
surgiram os oceanos, os lagos,
os rios, os regatos...
Durante milhões de anos,
a água foi soberana no planeta
e os seres que estavam junto às margens
viviam em harmonia em meio à natureza
Mas um dia o animal pensante
pôs a mão na massa e entornou o caldo,
o bicho-homem vendo as florestas intactas,
desceu o machado sobre as árvores indefesas,
transformou as matas em lavouras,
depois, por causa do desequilíbrio ecológico,
as lavouras foram atacadas pelas pragas e pelas pestes,
então, o bípede pensante inventou
um arsenal de antídotos químicos
para vencer a concorrência
que devorava prematuramente as colheitas
e o resultado desse trabalho
foi o envenenamento do meio ambiente.
Mas apesar de todo o conhecimento adquirido
continuamos a abater as poucas florestas
que ainda restam sobre a terra.
E os rios estão morrendo...
a água está sumindo...
e a vida corre perigo


domingo, 18 de março de 2012

ESTIO

Depois de muitos dias de estiagem
e de forte canícula,
eu andava abatido
por conta do mal estar
gerado pelas altas temperaturas.

Os dias e as noites
compactadas, uniformes
sem uma brisa,
nenhuma frescura
num verão que ficará, certamente,
entre os mais abafados
das últimas décadas.

Mas ontem pela manhã acordei,
sentindo na pele, a sensação
de temperatura amena, gostosa
e as narinas inalando, surpresas,
o cheirinho de terra molhada.
A primeira imagem que me veio à mente
foi a de um oasis em meio ao deserto;
aquela situação parecia um sonho.
Examinei as coisas à minha volta
para certificar-me de que não havia
nenhum engano, nenhum analgésico
ou qualquer outra coisa de efeito dopante,
que eu pudesse ter ingerido,
mas para o meu contentamento
o quadro era real: chovia! 

quarta-feira, 14 de março de 2012

OS POETAS

Hoje, 14 de março, dia da poesia, vai minha modesta homenagem
aos meus poetas favoritos.

Quando três poetas famosos
ascenderam ao mundo espiritual,
os mestres dos respectivos artistas
perguntaram o que eles gostariam
de ter feito na terra caso não houvessem
optado pelo mundo das letras.

Jorge Luis Borges respondeu:
gostaria de ter sido ourives
para restaurar com pedras preciosas
a Biblioteca da Alexandria.
Teria revestido com ouro genuíno
o acervo completo da Biblioteca
Nacional de Buenos Aires.
Teria recolhido os vocábulos maltratados
pelas pessoas avessas
ao bom uso da língua
e os lapidados para devolve-los
ao altar do idioma,
porque a palavra é sagrada.

Fernando Pessoa falou:
quisera ter sido um jardineiro
para cantar todas as flores
existentes no mundo,
inclusive aquelas que passam
desapercebidas pelos indivíduos apressados,
e o meu contentamento não teria sido menor
que a alegria de ter poetizado a vida.
Para cuidar das flores
não é necessário criar artifícios
nem dar outro sentido às palavras
além daquele intrínseco às mesmas.
Não é nem mesmo necessário
dar nome às flores.
Também não é necessário filosofia no trato com elas.
Para ler o livro que as flores escrevem na natureza
é preciso apenas ter olhos, olfato, sentimentos
e desapego de toda a vaidade.

Mario Quintana disse:
eu gostaria de ter sido o gestor
de uma biblioteca de sonhos ;
uma casa aberta aos oníricos,
pessoas não compreendidas na terra,
que sonham, solitárias, com medo
de perturbar a vida ordenada
dos indivíduos materialistas
que catalogam como loucura
qualquer atitude não padronizada,
processada pelas pessoas distraídas.
Durante minha vida inteira
fui testemunha ocular
da incompreensão sofrida pelo sonhador;
aaté  questionaram minha sexualidade
- diziam; ah, o Mário não gosta de mulher -
porque eu nunca casei.
Justamente eu, que amava a todas as mulheres,
mas não seria adequado nem recomendável,
que eu entregasse minha vida a uma delas,
pois eu não podia perder a graça das musas,
seres especiais, únicos e caprichosos...
Para completar a questão,
talvez eu não pudesse ter sido outra coisa,
senão aquilo que fui, pois, quem sabe, no fundo,
sonhador e poeta sejam grãos da mesma seara.


domingo, 11 de março de 2012

VERÕES

Tem feito tanto calor neste verão,
que tenho pensando em algumas alternativas
a fim de suportar as altas temperaturas.

Pensei em criar algum artefato
tipo um ventilador portátil, prático e leve,
para ser conduzido junto ao corpo,
ativado com uma bateria automática.

Para amenizar as noites mormacentas,
imaginei um novo tipo de ar condicionado
produzido em escala  doméstica,
gerado pelo trabalho de uma rede de cataventos.

Aqueles que possuem espaço disponível
podem implantar um sistema natural
de controle da quentura do ambiente,
plantando alguns pés de neve no pátio...



quinta-feira, 8 de março de 2012

MULHER

Hoje, Dia Internacional da Mulher,
levo minha homenagem a  todas
e de maneira particular àquelas
que têm e tiveram participação especial
na minha vida.

Um beijo à minha mulher,
companheira de tantas jornadas:
períodos de muitas alegrias
e  momentos de dor profunda.
Um abraço à minha filha,
princesa, flor, perfume no ar ...
Uma oração à minha mãe
- criatura que me ensinou  tudo - ,
 que esteja em paz no mundo espiritual.
Elevo meu coração ao Pai maior
e peço luz à nossa Presidente;
Dona Dilma, seja a nossa mãe
-  nem tenho esse direito, sou um não votante,
por não crer no nosso sistema corrupto -,
as mães sabem  amar.
Se as mulheres governassem o mundo
não haveria guerras políticas nem guerras "santas".
As fronteiras seriam  menos rígidas
e  todas as nações seriam amigas.

Pai nosso, que está em  toda a parte,
abençoai as mulheres do planeta!

P

terça-feira, 6 de março de 2012

TEMPO

O que é o tempo
senão um abismo infinito
nominado pela finitude?

Quando nasceu o tempo?
Podemos raciocinar,
que o tempo surgiu
quando as criaturas
foram capazes de percebê-lo.

Por certo, algo passa a existir
para o indivíduo pensante
à medida da visualização
de algo que ultrapassa
a fronteira do corpo.

Como estamos presos
às conjecturas
relativas às capacidades
perceptiva e sensitivas,
inúmeras teorias
ainda buscam a luz
de temas que ainda embaçam
a nossa mediana compreensão.


quinta-feira, 1 de março de 2012

MENOS BARULHO

Era fim de tarde
do mês de outubro,
inicio do horário de verão.
Eu voltava do centro da cidade
para o desfrute do merecido
intervalo regular de repouso.
Tudo andava devagar
por causa do fluxo do "rush",
entretanto, ao contrário dos outros dias,
excetuando o ronco rotineiro
dos motores do carros,
tudo estava assustadoramente calmo,
as pessoas quietas, caladas, mudas...
Até parecia que o planeta fora engulido
por um mundo mais adiantado,
onde não havia lugar
para o estresse tão comum do nosso tempo...
Tal situação atípica levou-me a devanear
sobre nossa postura cotidiana, interativa e contextual,
que por fim quase conclui, que
se usássemos  um pouquinho de  sensatêz
seria possível reduzir de forma considerável
o ruído sonoro que infeniza
nossa vida nas metrópoles.