A minha Lista de blogues

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

XÔ TABACO!

No dia mundial
de luta contra o tabaco,
eu lembro
dos antigos comerciais de cigarros
veiculados à mídia daquele tempo,
mostrando pessoas bonitas fumando...

No dia mundial
da luta contra o veneno pulmonar,
eu lembro
de gente que morria fumando,
conectada a um tubo de oxigênio...

Eu, ex-fumante,
assisto às ingestões diárias
contra a nicotina e o alcatrão.
Os efeitos da droga lícita
produzida pela Souza Cruz e concorrência
já não me atingem,
entretanto, rezo para que a humanidade
retire essa imundície da boca.

domingo, 26 de agosto de 2012

NUA

Ela, inquieta, fumou vários cigarros.
Não estava com saco de passar o dia inteiro
trancada no apartamento, em frente da tv.
Então, desceu a Salgado Filho
na direção do Parque Farroupilha
Mas aquele domingo era diferente
de todos os que ela vivera.
Havia algo estranho no ar
como se alguém houvesse jogado
uma dose alta de hormônios na atmosfera
ou será que era ela que estava diferente,
 já que os homens a comiam com os olhos à sua passagem?
Sentia uma brisa quente a lamber-lhe a pele,
a eriçar-lhe os pelos,
a tremelicar-lhe o corpo,
a malemolenciar-lhe as partes...
De repente, percebeu que não havia colocado
nenhuma peça de roupa sobre o corpo;
 descera à rua do jeito que gostava
de andar dentro de casa: pelada!
Ficou vermelha, ficou mole, ficou branca...
Colocou as mãos sobre os olhos
e voltou correndo para casa.
À altura da esquina da André da Rocha,
acordou com o ruído do escapamento
de uma motocicleta turbinada,
que passava pelo viaduto da Borges de Medeiros...
Bocejou aliviada. Olho o relógio:
três horas da tarde.
Colocaria uma roupa velha sobre o corpo
e daria um giro pela Redenção.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DIVAGAÇÃO NO HORÁRIO POLÍTICO

Drummond disse que havia
uma pedra no meio do caminho,
falou também:
mundo, vasto mundo,
se meu nome  fosse Raimundo
não seria uma rima,
seria uma solução.

Grande  Drummond, teu tamanho é inaferível...
Já o  político disse
não entendo nada de poesia,
mas no meio do caminho existem votos,
solução para o meu projeto  pessoal...

Água e a azeite,
poesia e  política,
anelos e praxis,
metais não moldáveis...
 José Sarney até tentou,
mas pergunto aqui:
é o caso do político buscando refrigério
nas águas políticas
ou o poeta inconformado com o silêncio da palavra
querendo sondar a aridez do deserto
pela aresta do ninho das cobras?
Será?!

domingo, 19 de agosto de 2012

PAISAGEM DE PEDRA

Nós, que amamos a natureza,
andamos preocupados ultimamente
com o avanço da construção civil
e a volúpia dos empreendimentos imobiliários.

A construção dos edifícios altos
estava restrita às cercanias do centro,
 mas à medida que aqueles espaços
foram sendo ocupados,
o braço das empresas construtoras
foi açambarcando áreas mais afastadas
do centro da cidade.

Nós, que residimos nos bairros periféricos,
até há pouco tínhamos uma visão privilegiada
do panorama que se descortinava sob nosso olhar,
mas agora estamos perdendo a visualização da paisagem
por causa dos prédios enormes, construídos à frente do nosso rosto.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

INSPIRAÇÃO

Passei muito tempo sonhando
com o elixir da palavras
e  o verniz das letras,
guardados em um bau,
escondido nos labirintos de algum castelo
sob a guarda das musas dos poetas.

Trancado nas cavernas da psique,
eu consultava os compêndios antigos,
esperando encontrar a pista,
que me levasse à chave
do bau da inspiração.

Um dia,distraído, abri a janela
e me deparei com a vida,
acenando-me da esquina,
convidando-me para interagir
com coisas à minha volta.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O HOMEM E O TEMPO

Ainda não entendemos
com profundidade
a vida e o mundo.
Procuramos,
dentro das nossas limitações,
o fio da meada
com o propósito de entender
o princípio do mistério...

Sábios, filósofos, exeguetas
esmerilham os olhos
nas linhas das escrituras
e à medida que adentram
no cerne dos alfarrábios,
se confundem com os nós temáticos,
geradores de polêmicas,
porque aqueles livros
foram escritos
para o homem daqueles dias...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

FAIR PLAY

Ontem,  quando caminhava no fim da tarde,
fui expectador de uma briga entre dois indivíduos,
se esfolando no meio da rua.
Acho que a contenda aconteceu porque os cavalheiros
desconheciam a prática do fair play.

Dizem que Mané Garrincha,
astro da copa da Suécia,
é o pai do fair play no esporte, e,
que a partir daquela época,
foi adotado como atitude correta
no convívio e nas lides sociais.

Mas o homem, ser pouco evoluído,
ainda tem dificuldades de cultivar certos preceitos,
e nas bolas divididas da vida
está mais afeito à lei de Gerson.

Após a divagação, volto à disputa de ontem,
ocorrida em face de uma carteira vazia,
caída provavelmente de algum bolso distraído,
que observada ao mesmo tempo pelos dois sanguíneos,
deu ensejo ao embróglio da narrativa,
que acabou com a chegada  da polícia.



quarta-feira, 8 de agosto de 2012

O MAL

Às vezes ouço gente dizendo
que não entende como Deus, luz suprema,
permite que o império do mal prospere.

A obra divina tem por base o amor
e é  regida pelas leis naturais, criadas por Deus,
enquanto que o mal é a ausência do bem
e advém da ignorância, da vaidade,
do orgulho, nasce enfim, das fraquezas humanas.

Outros dizem, ah, se  Deus quisesse
baniria o mal da face da terra!
Falam assim porque não compreendem
que essa tarefa é dos homens,
pois Deus, ser justo e perfeito,
colocou o livre arbítrio ao alcance
de todas as criaturas.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

FIM

Não é necessário ser profeta para saber
que um dia este mundo vai acabar,
basta aceitar o processo das leis naturais
estipulado pelo criador de todas as coisas.

Todo o dia algo se transforma
na conjuntura tempo/espaço.
Planetas nascem, planetas morrem,
mas não ficamos sabendo,
porque o nosso conhecimento
corresponde a um grão de areia
na escala da grandeza cósmica.

Agora parece que virou moda
o lançamento de previsões apocalípticas
a partir de dados aleatórios,
daí as mídias preencherem seus espaços
com vaticínios superticiosos.

Ó insensata mente humana
ainda tão distante daquilo
que existe para ser conhecido
e ao mesmo tempo tão soberba
a especular sobre coisas que ainda
estão distantes da nossa compreensão.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MARIA

Dentre as pessoas
que conheceram minha mãe,
poucas, bem poucas, sabiam
que Maria era o seu nome.

Minha mãe foi batizada
com o duplo nome
de Maria Eva,
mas no círculo familiar,
por economia de palavras,
chamavam-na apenas de Eva.

Mamãe crescia
e era Eva pra cá,
Eva pra lá.
Parece que ninguém lembrava
de também chamá-la de Maria.

À época de mamãe ira para a escola,
lá por volta de Mil Novecentos e trinta,
meu avô a registrou no cartório.
O velho ditou o nome composto,
mas o tabelião, surdo como uma porta,
não ouviu o segundo nome.
Então, na certidão de nascimento
ficou grafado o nome de Maria.
Mesmo assim, continuaram
chamando de Eva.

Um dia, meu pai a conheceu,
se por apaixonou por Eva,
mas no dia do matrimônio,
soube que casava com Maria.

Quando mamãe morreu
foi aquela confusão.
Os convidados à cerimônia fúnebre
chegavam ao local do velório,
procuravam o nome dela
no quadro informativo
fixado à entrada das capelas
e não encontravam nenhuma Eva.