Entre estufetato e assustado
ouvi esse triálogo outro dia
entre um adolescente e seus pais
em meio aos stands da Feira do Livro.
Mãê, compra o livro do Chico Buarque prá mim.
- Prá que tu queres este livro?
- Leitura sugerida pela sora
- Tua professora está se intrometendo
- Ela disse que é uma leitura inteligente
- Tu deves ler os jornais.
- Jornal é diferente de livro
- Jornais tem bons colunistas, alguns são até escritores.
- Não gosto de jornais. Eles trazem as coisas que eu vejo antes na Internet.
Paê, compra este livro do Marcel Proust?
- Menino tu não tens idéia das coisas
que esse cara escreveu
- Como não! Já vi alguns trechos dele na Web
- Tens certeza de que se tratava do Proust ,
sujeito massudo, rabujento, embromão?
- Claro! Li trechos do 1º volume. Estilo bem descritivo,
mas gostei de Albertine, Germantes. Pretendo ler os 7 volumes
de "Em busca do Tempo Perdido"
- Tempo perdido é continuar insistindo, porque
eu vou comprar mesmo é uma enciclopédia.
Mãê, paê, vamos negociar para ficarmos no meio-termo?
- Os dois falam ao mesmo tempo, tipo coisa combinada anteriormente:
Pode ser a coleção Harry Potter?
- Nada disso. Caraca!
- Novamente, os dois:
Então tu queres a coleção de dvd dos filmes do Potter ?
- Quero o último livro do Manoel de Barros
- O quê, eu e tua mãe nunca ouvimos falar desse cara!
- Ah, então, pode ser a coleção do Mario Quintana.
- Poesia, não! Poesia, não!
- Por que não, se já escrevo alguns poemas?
- E os dois, ao mesmo tempo, nervosos, quase gritando:
Por que poesia amolece os miolos!