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terça-feira, 14 de junho de 2011

Nair

Aos doze anos
fiz meu primeiro poema.
Era de uma singeleza franciscana.

O poema era composto
de quatro linhas
mal rabiscadas
pelas minhas mãos Trêmulas
em consequência do medo
de ser flagrado
no ato de delito:
uma declaração de amor.

O poema era endereçado
à menina Néria,
colega de classe
mas devido a confusão
dos meus garranchos
ele foi parar
nas mãos de Nair
dois anos mais velha,
aluna de outra classe.

Do resultado daquele equívoco
floresceu uma grande amizade
na nossa primeira juventude.

Nair ensinou-me coisas
que eu nunca esqueci.
Ela trouxe-me os autores
que foram meus favoritos
durante muito tempo
como o Eça, o Balzac,
o Jack London...
Ainda apresentou-me Bill Halley e seus cometas,
Elvis Presley, Bob Nelson...

Foram dias de sonhos,
de amizade, de encantamento
e de paixão...

Lembro-me dos dias em que fiquei acamado
em virtude do sarampo.
Naquelas duas semanas
Nair aparecia lá em casa
todas as tardes depois do colégio
e lia em voz alta
os colunistas do Correio do Povo
ou alguma coisa do Mario Quintana.
Outras vezes adivinhava meu pensamento
e escrevia de improviso um poema
que eu gostaria de ter escrito.

Nair não me permitia falar
da atração que eu sentia.
Sempre que eu procurava falar no assunto
chamava-me de bobo,
dizia que eu ainda era criança
e não devia apressar o rio...

Mas um dia a casa caiu.
Nair - com os olhos vermelhos-
abraçou-me emocionada
e falou baixinho:
meu amigo, teremos de ficar afastados
por algum tempo;
minha família está de mudança para o Norte,
pois a empresa em que meu pai trabalha
vai para aquela região.
Mas não te preocupes,
eu voltarei mais tarde
ai tu serás um rapaz feito
e teremos todo o futuro pela frente...

Mas Nair não voltou!

Hoje, passado quase meio século,
quando me lembro daquele tempo
meu coração fica perguntando,
Nair, por onde tu andas?

17 comentários:

  1. Olá amiga Fatima, que bom que tu gostaste.
    Um abraço fraterno.

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  2. Olá Dilmar,
    Querido, muitas vezes a vida nos surpreende com coisas que nem esperamos que aconteçam. O momento de conhecer e vivenciar Nair foi aquele. Depois, vieram, com certeza, outras pessoas que te fizeram pensar diferente, pois à medida que crescemos e amadurecemos, ampliam-se nossos horizontes e afastamo-nos de determinadas pessoas porque a vida assim deseja. Concordas?
    Pelo menos, eu penso assim.
    Um beijo,
    Maria Paraguassu.

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  3. Fabuloso, Dilmar querido!

    Me levou tão longe e ao chegar lá, me perguntei tb, onde será que ele esta.
    Maravilha!
    Bj e linda semana, meu amigo querido

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  4. Amiga Paraguassu, obrigado pela visita e obrigado pelo comentário.
    Um abraço fraterno. Tenha um bom dia.

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  5. Amiga Ira, obrigado pela visita e obrigado pelo comentário.
    Um grande abraço. Tenha um bom dia.

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  6. Pois é... A vida, por vezes, deixa ficar no nosso caminho umas pedras preciosas para que brilhem quando se faz noite.
    Uma estória que bem podia ser contada em prosa não fosse a poesia tomá-la por completo.

    Um beijo

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  7. Dilmar

    Para um garoto de apenas doze anos,
    um poema é sempre motivo de risos...
    Risos somente para os meninos...
    pois para as meninas provova suspiros.

    Imagino como deve ter sido esse dilema,
    ir parar na mão de outra o seu poema...
    Uma outra já não tão pequena.

    Mas como o poema nos encanta,
    derretou o coração de quem leu
    e uma linda amizade nasceu.

    Obrigada pela visita carinhosa.

    Bjs
    Chris

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  8. Amigas Lídia e Chris, agradeço suas visitas à minha modesta página. Agradeço, também os comentários.
    Um grande abraço. Tenham um bom dia.

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  9. Tantas pessoas, tantos lugares! Um amigo me diz: "as pessoas permacem em nossas vidas, o tempo que for necessário e possível."
    beijo

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  10. Amiga Sexo, obrigado pela visita. Volte sempre.
    Um grande abraço. Tenha um bom finds.

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  11. Oi Dilmar querido, obrigada pelo carinho, lendo seu poema, da vontade de te ajudar a procurar Nair, hehe, a vida passa super rápido e eu tenho também saudades e vontade de saber por onde andam pessoas que foram importantes para mim, um grande abraço e que tua semana seja produtiva e feliz.

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  12. Amiga Savia, obrigado pela visita.
    Um abraço fraterno.Tenha uma boa semana.

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  13. Amiga Eva, obrigado pela visita. Um abraço fraterno.
    Desejo-te uma boa semana.

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  14. Já ouvi...
    Já ouvi não me lembro de quem agora, que as palavras tomam vida nas canetas dos poetas. Passei muito tempo acreditando nisso, mas agora eu vejo que as palavras têm vida muito antes das nossas canetas. Na verdade elas sempre foram vivas. O próprio Cristo que já existia antes de todas as outras coisas existirem Era a palavra encarnada. Cada pessoa é um montão de palavras que nos sugere várias sensações; Umas de alegria, outras de tristeza. Algumas pessoas são contos de terror, outros de amor. Todos somos palavras desde os ossos até os cabelos. O problema é que a maioria das pessoas são palavras jogadas ao vento. A maioria das pessoas são palavras escritas na beira do mar, palavras que são apagadas pelas ondas. Eu sei... Não pudemos ser um dos cem mais, não pudemos descobrir a lâmpada, ou os mistérios da luz. Na pudemos construir o carro, nem fazer o homem ir à lua. Mas só não pudemos por que nascemos agora, somos palavras recém escritas. Mas por favor, lembrem-se destes rostos aqui. Fomos escritos agora, sabemos, mas seremos os que esculpirão o tempo. Me disseram também uma vez que os poetas eternizam as palavras. Lembrem-se disso então até quando puderem. “A maioria das pessoas são simples fatos. Nós é que somos a HISTÓRIA!”

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  15. Amigo,

    Adorei te ver garoto, o garoto Dilmar poeta, o garoto em você.

    Lindo d+!

    Beijos com o carinho de SEMPRE.

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