A minha Lista de blogues

quarta-feira, 19 de abril de 2017

DIA DE ÍNDIO

Meu pai gostava da palavra indiada,
costumeiramente a inseria na conversa.
Eu que ainda não conhecia o significado
pensava em mil coisas distante do sentido.

Quando soube o significado do vocábulo
o teor impactante do termo foi diminuindo
até desaparecer por completo o entusiasmo
que a palavra causava nos ouvidos do infante

Mas meu pai continuava falando indiada
Dizia que a aluzão era uma homenagem
aos nossos parentes espalhados por aqui:
 índio,  elemento nativo da mestiçagem.

22 comentários:

  1. Acróstico

    Da Europa chegou ávido, o lusitano:
    Ilha de Santa Cruz, olha, desabitada!
    Aqui vivia o silvícola um ser humano
    Desprezado pelo branco como nada.

    O dia de hoje tenta desfazer injustiça
    Sentida por quem cá sempre morou
    Ímpio luso somente rezou sua missa
    Nada trouxe, daqui quase tudo levou.

    Dos índios tiraram a cultura e a terra
    Indefeso e triste o natural agora está
    O mandrião luso lhe declarou guerra
    Somente índio perdido, no mundo há.

    ResponderEliminar
  2. Uma poesia que fala de seres que poderiam ter tido um apoio maior, pois aqui viviam e creio mereciam e merecem uma situação melhor por parte das autoridades deste país.
    Um abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Meu caro amigo Élys, obrigado pelo comentário. Um abraço daqui do sul. Tenhas um bom dia.

      Eliminar
  3. Dilmar,
    Abaixo, em duas partes, texto que escrevi sobre minha descendência nativa:


    BUGRES
    Bugre, nome meio pejorativo, era pessoa, homem geralmente, rude, de educação sofrível, tosca, abrutalhada, de comportamento hostil que vivia “nos matos” na concepção popular do termo, lá na minha Palmeira natal. Ninguém se sentia feliz em ser chamado de bugre. Segundo o Houaiss, indivíduo pertencente ao grupo indígena que habitava o Sul do Brasil, entre os rios Iguaçu e Piquiri e as cabeceiras do rio Uruguai. Pois é, nasci e vivi até a adolescência exatamente nessa região; meus antecedentes, com poucas exceções, são todos dessa mesma área também; e tem mais, meu avô, David Cordeiro, era um Kaingang de tribo que habitava a margem direita do rio Iguaçu. Conclusão: tecnicamente sou bugre, não tem escapatória. Descendentes do velho David, meus tios são exemplares perfeitos e acabados de bugrões saudáveis. Aliás, minha mãe, mais “bugra” que seus irmãos, excelente cozinheira que era, costumava fazer uma espécie de sopa chamada “mingau de bugre”, na qual entrava farinha de milho e alho, que nós, bugrinhos esfomeados, adorávamos comer nos frios invernos do Paraná.

    ResponderEliminar
  4. Continuando...
    Entretanto, existem outras conotações que definem o vocábulo. Lembro que quando estive no Xingu entre os Kamaiurás, eles denominavam bugres os índios arredios, rebeldes, que se afastavam da tribo e iam viver isolados no meio da selva. Em geral, o bugre de lá estava voluntariamente afastado da tribo por motivo de luto, havia se tornado viúvo e, em função de não mais ter uma esposa que mantivesse o necessário equilíbrio social entre as famílias, ele se isolava no mato e só voltaria ao seio da sociedade se encontrasse uma nova esposa, coisa muito pouco provável numa sociedade com mais homens que mulheres. Ser viúvo transformava o indivíduo em bugre e pária social, era (é ainda) uma tragédia.
    Como Bugres, também são conhecidos os caboclos nascidos da união de pessoas brancas com índias, ou índios propriamente, que tenham se aculturado como brancos ou que vivam entre brancos. Mas, o que é ser bugre? O que é sentir-se bugre? Existe diferença social, cultural ou genética entre bugres e brancos? E entre bugres e índios? Ser bugre é ser geneticamente tão igual a brancos e índios como qualquer outro indivíduo o é. Só sente ser bugre o indivíduo que é discriminado por brancos ou índios, que é julgado diferente por uns ou por outros. Culturalmente o bugre é o que assimilou da sociedade na qual está inserido, seja branca, negra ou índia. Aliás, no meu caso, como me criei na sociedade “morena”, pobre e interiorana, sou um bugre como essa sociedade me fez, moreno, pobre, interiorano.
    Claro que, como todas as “classes” de cidadãos, também os bugres (eu incluso) podem e querem ascender socialmente, estudam, trabalham se integram e vencem com a mesma frequência que qualquer outro indivíduo de qualquer outra “tribo” considerada. Então o que resta da “bugrice” daqueles que nasceram com o estigma do “grupo indígena que habitava o sul do Brasil” etc? Nada, rigorosamente nada! Bugrismo é apenas um estado de espírito. Ser bugre é como ser paulista, baiano, gaúcho ou qualquer outro gentílico, não há absolutamente uma fronteira, étnica, física ou genética que separe nós, mal ajambrados bugres das barrancas do Iguaçu, de qualquer aristocrata bonitão e endinheirado da família Orleãs e Bragança do alto da Serra dos Órgãos em Petrópolis, por exemplo. JAIR, Floripa, 08/01/11.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro amigo, poeta, contista e cronista Jair, muito bom o teu depoimento, o qual veio enriquecer este espaço. Pois, nós, povo mestiço, temos muito de sangue índio a correr nas veias.
      Obrigado pela dissertação e pela informação. Tenhas um ótimo dia.

      Eliminar
  5. Os índios são os verdadeiros donos da do Brasil, pensando na primeira ocupação. É muito anterior a ocupação pelos europeus. Mas sua história é de completo abandono, perseguição e miséria. Até lá pela metade do século XX, pensava-se que um dia a presença dos índios no Brasil chegaria ao fim. Mas houve uma conscientização das autoridades e hoje os índios buscam o reconhecimento, seus direitos como cidadãos brasileiros, mas diria que ainda sofrem preconceito por serem primitivos.
    Aliás, se não houvesse nenhum problema não teria razões paa existirem o Dia do Índio, O Dia da Mulher, O Dia da Consciência negra, O Dia Internacional do Orgulho Gay. Todos ainda lutam pela aceitação e o zero de preconceito.
    Bem lembrado!Muito bom.
    Abraço, Dilmar.
    (Ah...Obrigada, sempre, pelo carinho dos seus comentários!)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado, cara Tais pelo comentário. Um abraço. Tenhas um bom dia.

      Eliminar
  6. Maravilhoso como sempre!!

    Beijos e uma excelente semana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Cidália, obrigado pela visita de além-mar. Um abraço da qui do sul do Brasil. Tenhas uma boa tarde.

      Eliminar
  7. Ah, a palavra vira neologismo em seus versos!...
    Magia de xamãs, quando lembrados assim...

    Beijos =)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pelo carinho, cara Nadine. Um abraço. Tenhas uma ótima tarde.

      Eliminar
  8. Partindo-se do princípio que não existe filosofia e sim filosofias, por ser uma relação entre a psiquê do indivíduo e o meio externo, poderemos afirmar que não houve descobrimento do Brasil pelos europeus e sim uma invasão à terra indígena onde o forte venceu o fraco. E isso posto, nós que que somos o intruso em casa alheia. Eu respeito a cultura indígena que muito deu a nós e a homenageio. Parabéns por sua homenagem, amigo! Veja vídeo:
    https://www.youtube.com/watch?v=njY8fgtw4IU
    Muito obrigado. Laerte.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Perfeito, caro amigo Laerte. Obrigado pelo comentário. Um abração. Tenhas uma boa tarde.

      Eliminar
  9. bacana!
    Quando pequena, descobri que os nomes de várias cidades brasileiras são índios. Como Niterói, por exemplo.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois então, cara amiga Ana, muitas palavras que usamos no dia-a-dia são indígenas. Obrigado pela visita. Um abraço. Tenhas uma boa tarde.

      Eliminar
  10. E pensar que haviam milhões de índios nas terras Brasilis...lendo o comentário de minha querida amiga e blogueira Tais e do blogueiro Silo, pode-se ter uma ideia do sentido deste poema manifesto de nosso amigo e poeta aqui. Mas o comentário/texto de nosso amigo Jair Lopes, que tenho o prazer de ter lido estes textos no livro dele Crônica Esparsas, ainda na minha cabeceira. A história dele com seus antecessores é linda. E todo dia era dia de índio...coitados, encontra-se pelas ruas urbanas, com suas crianças pelas calçadas esmolando e eles vendendo restos, vestígios do que foi a cultura deles. bela postagem meu querido amigo Dilmar.
    os. Carinho respeito e abraço.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Perfeito, meu caro Jair Machado, os amigos blogueiros citados e os não citados estão aqui enriquecendo este modesto espaço, fato que me alegra, sobremaneira. Sobre Cronicas Esparsas: eis um livro para se ter à cabeceira e ser aberto aleatoriamente e degustado tal qual pílulas de teor criativo agradabilíssimo. Sorte a nossa de termos o livro do Jair conosco. Obrigado pela visita. Um abração. Tenhas um ótimo feriadão.

      Eliminar
    2. Perfeito; o livro 'Crônicas Esparsas' é para ler e...reler. Vai-se descobrindo vários significados nas entrelinhas. Junto-me a você e Jair Machado.
      Abraço!

      Eliminar
    3. Realmente, cara amiga Tais, para nossa sorte e deleite navegamos nas boas águas de "Crônicas Esparsas".
      Um abraço.

      Eliminar
  11. Oi Dilmar!
    Que bela postagem, meu amigo! Bem lembrada esta data que foi escolhida para se comemorar o Dia do Índio. Uma bonita homenagem prestas ao povo indígena que, lamentavelmente, continua sofrendo discriminação e ameaças constantes no nosso País. Os nossos índios merecem toda consideração, atenção e respeito.
    Gostei muito. Parabéns !
    Um abraço e ótimo feriado !

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara amiga Ilca, obrigado pela visita. Um abração. Tenhas um ótimo feriadão.

      Eliminar