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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O pequeno cão
com as patinhas quebradas
foi jogado na rua,
mas os samaritanos
estavam míopes.

Muita gente
passou por ali
mas, todos, ocupados,
não tiveram tempo
para o bichinho doente.

Passou o político
maturando projetos,
passou o crente
conectando os anjos,
passou o poeta
falando com as musas,
passou o viciado no jogo do bicho
conjecturando:
eu divido o número do cachorro
pelas patas quebradas
e jogo no "primeiro ao quinto",
mas o pobre animal continuava
atirado à sarjeta...

Por fim passou o catador de papel
exaurido pela labuta insana,
com a mente vazia de qualquer pensamento elevado
e tropeçando sobre os efeitos da aguardente;
juntou o animal, subiu e desceu a rua diversas vezes
procurando o dono do cão,
mas não encontrando ninguém interessado, decidiu:
não posso deixar esta criatura de Deus sem amparo,
então o levou consigo,
e, por vários dias, cuidou das feridas,
colocou na própria cama
e dividiu o pouco alimento que tinha...

Quando o animal ficou curado,
o homem o colocou sobre
o carrinho de conduzir papeis,
junto à uma faixa:
este animal não me pertence
e eu gostaria de devolver
ao dono de direito...

12 comentários:

  1. Oi querido Dilmar, vejo cenas como esta todos os dias, alguns moradores de rua possuem um coração maior do que qualquer outra pessoa, talvez por saberem como é triste ser sozinho!
    Abraços.

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  2. Pois é amiga, muitas vezes, a ajuda vem de onde nem se espera.
    Obrigado pela visita.
    Um grande abraço

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  3. Maravilha, meu amigo Dilmar!
    Além de belíssimo, o seu texto me faz refletir sobre o descaso com os animais e quanto os menos favorecidos são melhores nesta questão.
    Você tem razão: é comum a gente ver mendigos, catadores de papel, levando consigo algum animalzinho, que, diga-se, tratam com o maior carinho...
    Você, sempre atento às causas importantes!
    Grande abraço, meu amigo poeta.

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  4. Na verdade amigo, aprendemos mais com eles do que eles conosco!
    Grande abraço.

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  5. Caro amigo Dilmar,

    "Passou o político maturando projetos, passou o crente conectando os anjos, passou o poeta
    falando com as musas..."

    Todo texto está bem construido, destaquei a parte acima que chama a atenção de forma poética para o tema da sensibilidade ou sua ausência.Existem aqueles que a tem e os que não.
    Triste? Sim, mas real.O egocentrismo impede de ver ao redor.

    Particulamente fiquei eternecida. Amo os animais. Tive um carrocho dos 11 aos aos 28 anos e hoje tenho quatro gatas. É dito tanta coisa irreal dos gatos, projeções humanas sobre o animal.Há tantos sentimentos e troca que me transmitem.

    Creio que o texto abre várias janelas para a sensibilidade, desde o questionamento que citei até a identificação com o abandono.
    Parabéns por teu trabalho que toca na alma!

    Forte abraço

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  6. Obrigado amiga. Sou meio suspeito quando trato de temas sobre animais. Na minha casa, eu, minha mulher e minha filha somos apaixonados por cães. Atualmente temos três cachorras podlees e elas nos dão tanto amor...
    Um grande abraço.

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  7. Uma visão exemplar!

    Infelizmente começam a ser raros esses "catadores de papel com a mente vazia de qualquer pensamento elevado", mas com o coração cheio de caridade para dar, a troco de nada. Aqueles para quem ajudar é uma dádiva recebida e não oferecida.

    Um beijo

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  8. Obrigado pela visita amiga Lidia.
    Um grande abraço.

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  9. Nossa, como isso e verdadeiro, a ajuda que vem de onde menos se espera, os probres que mais ajudam que os ricos, a maldade com os animais ( não suporto isso). Texto intenso.

    Beijos meu

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  10. Obrigado, amiga Fatima, pela visita.
    Um grande abraço.

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  11. Poema sensível tratando de uma realidade que é ignorada por muitos. O que a gente percebe muitas vezes á a união dos desprezados. Exemplo: cães e homens e mulheres em situação de rua. Ou mesmo solidariedade dos pequenos: cães e crianças. Parabéns pelo poema!

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